Se dúvidas houvesse, a semana passada foi exímia na validação dos três famosos “F” que vulgarmente associamos ao país: Fátima, Futebol e Fado. Em Fátima, a fé mobilizou milhares de pessoas (200 mil, segundo dizem), para celebrar a primeira aparição aos pastorinhos, com uma celebração marcada, entre tantos outros detalhes, pela utilização de um cálice de prata dourada oferecido pelo Papa Francisco, na sua primeira deslocação ao santuário, em 2017. No Futebol, mais do mesmo, com os habituais festejos exacerbados onde tudo é permitido. É futebol e portanto, ninguém leva a mal, tal como no carnaval. A cereja em cima do bolo foi mesmo a receção oficial aos novos campeões nacionais, nos Paços do Concelho, pelo Presidente da Câmara que foi gentilmente agraciado com um monumental coro de apupos durante os seus 5 minutos (suados) de discurso. O homem merecia um prémio: é preciso estomago e muita paciência para, na sua própria casa, ser tratado daquela forma. Mas Moedas, com o seu discreto porte físico, foi gigante naquela(s) varanda(s), vencendo os adeptos pela persistência e pela educação. Quanto ao Fado, diz-se que é conhecido por expressar sentimentos como o amor, a tristeza, a saudade e as experiências da vida quotidiana. Ora, a excelente participação dos Napa na Eurovisão poderia ser aqui evocada na perfeição (parabéns rapazes), mas não consigo ignorar a mais recente consulta popular do domingo passado. Afinal, entre regionais, europeias e legislativas, foram “apenas e só” seis atos eleitorais, no intervalo de um ano!
Sobre este fa(r)do das eleições, parece-me claro que o país e os portugueses mostraram que não somos assim tão diferentes. Durante algum tempo, a Portugal foi assegurado algum crédito acrescido como país europeu periférico “bem comportado” que se foi mantendo à margem dos populismos crescentes verificados por essa Europa fora. Sinal virtuoso, diziam uns, mentalidade provinciana, pensavam outros. Continuo a achar que na política não há muito para inventar e que nestas grandes noites eleitorais, confirmam-se apenas a capacidade (ou a falta dela) em ler eficazmente os sinais que o povo vai libertando, e que tantas vezes não se aceitam por mera vaidade. Na política, o que parece, é! E a falta de humildade tem sempre um custo.
Em Portugal, tal como em outras geografias europeias, onde o fenómeno do populismo iniciou a sua carreira há já algum tempo, o crescimento de forças políticas extremistas é um dado consumado e preocupante. E se perguntarem pela minha opinião sobre o assunto, diria apenas que já é tempo dos partidos e famílias políticas europeias entenderem duas coisas muito simples: 1º -o povo não é estúpido! 2º – o tempo é hoje, um bem cada vez mais escasso e por isso, a forma como se comunica é crucial. Infelizmente, nem todos aceitam estes factos.
Sejamos francos e pragmáticos: em plena era das redes sociais e da IA (cada vez mais presente, ainda que encapuçada), não há tempo ou qualquer interesse em discutir ideologias políticas. Não há lugar para discursos barrocos e pseudo-refinados sobre “direita” e “esquerda”, entre votos “úteis” ou de “protesto”, ou tantos outros exemplos que poderiam ser aqui referidos. O povo, aqui ou em qualquer outro país europeu, quer apenas respostas concretas para aqueles que são os problemas que os atormentam.
Toda esta questão faz-me lembrar o esforço meritório que se tem feito a nível europeu, no seio das suas principais instituições em combater o jargão, a linguagem técnica e refinada, baseada em números, despachos, artigos e outras tantas lengalengas que impedem o cidadão comum de perceber, afinal, o conteúdo das mensagens. A arte de bem comunicar não tem preço! E é também, no meu modesto entendimento deste mundo estranhamente simples (por vezes, até simplório) da política, a chave para a consolidação das democracias europeias, com respeito pelos valores que estiveram na base da criação do maior projeto democrático da história.