A Organização Mundial da Saúde (OMS) denunciou hoje que nenhum dos seus camiões com ajuda humanitária conseguiu entrar em Gaza, apesar de 68 veículos estarem prontos para o fazer, confirmou um responsável da agência das Nações Unidas.
“Dois camiões [com ajuda de outros atores humanitários] puderam entrar na terça-feira e três outros tiveram o acesso negado, mas nenhum da OMS pôde entrar em Gaza até agora”, disse o diretor de Emergências Humanitárias da organização, Mike Ryan, num debate sobre a situação sanitária nos Territórios Palestinianos.
Também presente no mesmo debate, a delegação de Israel, que impôs um bloqueio humanitário ao enclave palestiniano no início de março, argumentou que o grupo extremista Hamas (que controla o território desde 2007) utilizou a ajuda humanitária que entrou anteriormente em Gaza para lucrar com a sua venda e “prolongar a guerra”.
A população da Faixa de Gaza aguardava hoje desesperadamente a distribuição de ajuda humanitária, à medida que aumenta a pressão internacional sobre Israel, acusado de só permitir a entrada no território palestiniano de uma ínfima parte do apoio necessário.
O relato foi feito pela agência de notícias France-Presse (AFP) que recolheu testemunhos, via telefone, de habitantes do enclave palestiniano, cenário de uma guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas desde outubro de 2023.
“A situação é insuportável. Não chegou nenhuma ajuda e ninguém nos distribui nada”, disse à AFP Oum Talal al-Masri, 53 anos, por telefone, a partir de um bairro da cidade de Gaza.
“Mal conseguimos preparar uma refeição por dia. A ajuda não é um luxo – precisamos urgente e desesperadamente de tudo: alimentos, medicamentos, água potável e produtos de higiene”, acrescentou.
Após mais de dois meses e meio de bloqueio total imposto à Faixa de Gaza, Israel anunciou que tinha autorizado a passagem de uma centena de camiões da ONU na segunda e terça-feira.
A autorização por parte de Israel de uma ajuda limitada a Gaza na segunda-feira foi descrita pela ONU como “uma gota no oceano” e 22 países exigiram a retoma “imediata da ajuda total”.
O Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários (OCHA) queixa-se de que as condições impostas por Israel estão a dificultar a entrega da ajuda aos seus destinatários finais, depois de ter entrado em Gaza.
“De momento, a ajuda não passa de palavras”, lamentou ainda Oum Talal al-Masri, à medida que Telavive intensifica a sua ofensiva militar no território.