Para a comunidade portuguesa residente na África do Sul, o abstencionismo tem um aliado – os correios da África do Sul (South African Post Office)
Os serviços postais sul-africanos, na prática, estão disfuncionais há algum tempo o que se agravou recentemente com o encerramento permanente de aproximadamente 450 balcões e o despedimento de 5.000 trabalhadores.
O serviço de entregas ao domicílio é praticamente inexistente forçando utentes a ir em busca da correspondência que lhes é endereçada a sucursais diversas que em muitos casos não são enviados para a área de residência dos destinatários.
Por exemplo, nos postos de correios de Bedfordview, Joanesburgo, encontravam-se, ontem, cerca de 2.000 envelopes com os boletins de voto enviados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) para entrega ao domicílio. Como não existe – salvo raras exceções – distribuição de correspondência ao domicílio e uma vez não recolhidos pelos destinatários, serão devolvidos à procedência ou incinerados.
Nas eleições legislativas de 2025 há mais pessoas recenseadas o que se pode traduzir numa abstenção mais elevada do que nos anos anteriores.
A falta de visitas e de esclarecimento em campanha pré-eleitoral por responsáveis partidários à comunidade, potencia, seriamente, a abstenção.
Tudo porque ninguém sabe quem é quem e quem os vai representar. Ainda para mais, a falta de apresentação de programas faz manifestar um desinteresse da política do seu país para além de ficar por elucidar as questões que pretendem colocar e que anseiam respostas.
Mensagens por WhatsApp enviadas de forma fastienta são apenas mensagens de propaganda partidária que veiculam a mensagem dos seus autores, mas não dão respostas o que se torna um exercício inútil.
O envolvimento e a motivação de uma comunidade para tomar parte em atos cívicos como por exemplo exercer o seu direito de voto, requer esclarecimentos adequados aos potenciais eleitores e o que representa o exercício ou dever cívico de votar.
Uma ideia enraizada e que serve de justificação para dizer “quero lá saber do voto ”, é motivado nem mais nem menos pela manifesta falta de informações, de respostas a perguntas que gostariam de colocar, que podem ser a demora e dificuldade nas equivalências académicas, segurança nas ruas das cidades ou locais de onde são oriundos, se o recenseamento militar com os nomes de seus filhos expostos nas vitrinas dos consulados deixa sugerir serviço militar obrigatório e qual a pena que poderão incorrer se não o fizerem e se isso será um pronúncio de uma guerra que se advinha e que seus filhos poderão ser recrutados para entrar na guerra ou também qual a razão que os consulados não estão dotados de uma verba para assistência psicológica a vítimas da violência e a morosidade nos reembolsos com despesas funerárias, que levam por vezes dezoito meses para serem processados e porque razão é morosa a atribuição da nacionalidade portuguesa a quem tem direito e por vezes é recusada.
Muitas pessoas interrogam-se de que vale votar se durante os debates televisionados entre os maiores partidos políticos nada foi mencionado sobre a emigração o que deixa um misto de interrogações com a sensação de desapreço pela diáspora, especialmente, aquela radicada em países “quentes” e inseguros onde se verifica o envelhecimento e o empobrecimento se agudiza conjuntamente com a falta de empregos e onde a segurança social é apenas uma miragem.
Esta falta de informações são indubitavelmente de uma responsabilidade que recai na classe política porque falha em compreender e fazer compreender e divulgar informações pertinentes e autênticas ao seu eleitorado, agravado pela falta da organização de troca de opiniões mais frequente e atempadas sobre aquilo que nos aflige coletivamente .