Bons políticos

Pela segunda vez este ano, calha-me escrever para esta coluna de opinião num dia de reflexão. Em março foi na véspera de eleições regionais; hoje, véspera de eleições nacionais. Ora, é na figura da “Véspera” (palavra que deriva do Latim “vesper”, que designava a estrela Vésper, que é o planeta Vénus, quando visível à tarde) que deve residir a nossa reflexão para os atos eleitorais, enquanto escolhas políticas para o futuro da nossa sociedade. Curioso o entrosamento lexical de Vénus, planeta feminino e objeto mais brilhante do céu além do Sol e da Lua, com conceitos relacionados com a antecipação e ponderação. Porque a racionalidade só pode derivar da afetuosidade que temos perante o que nos rodeia. Em tempos em que o único apelo é à emoção, olhemos para esta “véspera política” precisamente com o poder da lógica e da reflexão.

Dizem que nós, cidadãos, devemos andar “cansados” de tantas eleições. Isto quando ainda há poucas semanas celebramos não só o 51º aniversário da Revolução dos Cravos que trouxe a democracia ao nosso país; como também celebramos a 25 de abril o 50º aniversário das primeiras eleições livres, as eleições para a Assembleia Constituinte em 1975. Assim, apesar do meio século que nos distancia dessa alvorada democrática, a beleza singular do ato eleitoral consegue ser sublinhada quando vemos tantos retrocessos democráticos ocorrerem no mundo tão perto de nós.

De eleições não podemos estar cansados. Mesmo que nos digam para nos sentirmos assim. É falsa tal agência política. Porque de suposto cansaço eleitoral para outro cansaço, só se atinge a fadiga democrática em que de repente acordamos e não temos o direito ao voto, à co-decisão, à participação livre e democrática na construção do nosso país. Nem para nos queixarmos teremos então direito e só restará a resignação dos fracos.

Sim, o processo de degradação é assim de rápido. Aquilo que custou décadas a conquistar, é eliminado pela leveza e pela velocidade da assinatura do autocrata. E o primeiro pilar a ser rasurado é precisamente a transparência e a responsabilização política. Realmente não dá “jeito” nenhum.

Por isso é cada vez mais urgente e premente, que os cidadãos estejam cientes e informados sobre as promessas e as realidades políticas no nosso país, e além. Que se invista na literacia política dos cidadãos. Uma das principais razões pelas quais se criaram juventudes partidárias foi, precisamente, para ajudar a formar bons políticos. E por “bons” não digo que sejam só ganhadores de eleições, caciques e fixadores de cartazes. Bem pelo contrário. Por “bons” tenho os mais qualificados e que com ética melhor defendem a causa pública. Será que esta razão de ser ainda é atual e valorizada? A estrela Vésper que deixe alguma iluminação para esta reflexão no dia de hoje.

Sugestão da Semana: Independentemente dos estados de saúde dos políticos, ao Presidente do PSD-M sugere-se uma leitura atenta aos estatutos regionais do PSD-M, alterados sob seu ímpeto renovador em 2015, nomeadamente ao teor do n.º 3 do artigo 15º: “A permanência consecutiva de qualquer militante nos mesmos cargos ou órgãos do Partido, fica limitada ao período máximo de 12 anos”. A memória em política pode ser fugaz, daí a importância da força da lei. Ou será que vai haver nova alteração estatutária para “retificar” esta limitação de mandatos prevista nos estatutos? Isso seria ao sabor da famosa frase do comediante Groucho Marx “Estes são os meus princípios, mas se não gostarem deles tenho outros!”…

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