Albuquerque recusa falar da sucessão na liderança para “evitar sarilhos”

Em entrevista à agência Lusa, Miguel Albuquerque recusa falar da sucessão na liderança do PSD, mas considera que o partido “tem capacidade de renovação”.

O presidente do Governo da Madeira, Miguel Albuquerque, recusa falar da sucessão na estrutura regional do PSD para “evitar sarilhos” e critica o regime de incompatibilidades que visa “funcionalizar” os políticos, considerando ser necessário “recrutar quadros de qualidade”.

“Eu nunca digo ‘eu vou sair’ para evitar sarilhos. Mas, é evidente que já estive 19 anos na câmara [do Funchal], já estou aqui [presidência do Governo da Madeira] há bastante tempo. Mas, é evidente que às vezes é mais fácil entrar do que sair”, disse o governante madeirense, que é também líder do PSD/Madeira numa entrevista à agência Lusa, no Funchal.

Segundo Miguel Albuquerque, um responsável quando deixa um cargo quer que “tudo continue a correr bem”, daí a “grande dificuldade” em sair, até porque “normalmente não corre” bem.

“Portanto, o que nós temos de fazer é recrutar quadros para a área política”, sustentou, reforçando que atualmente existe “um problema muito difícil que é o recrutamento de quadros de qualidade para o exercício de funções públicas”.

“Isso é um problema das democracias”, reforçou, reconhecendo que “hoje em dia, muito poucas pessoas qualificadas estão dispostas” a ir para a política, “porque estão muito expostas, estão muito condicionadas, ganham mal”.

Ou seja, “as mais competentes e mais qualificadas vão para a sua vida, vão para os seus negócios, têm a preservação da sua imagem, da imagem da família”, acrescentou, contrapondo com o que acontecia na sua geração, que estava motivada para a política.

Nessa altura, lembrou Miguel Albuquerque, de 64 anos, surgiu “um conjunto de quadros muito importantes” que foram para a política, enquanto “hoje em dia é muito difícil e isso é mau porque o exercício do serviço à ‘res publica’ deve ter os melhores” e deveria levar a que se reflita “um pouco sobre o que se está a passar”.

Criticando o que classificou de “história das incompatibilidades”, o presidente do Governo da Madeira considerou que o facto de “não haver portas giratórias vai funcionalizar os políticos, vai transformar os políticos em funcionários”.

Na Assembleia Constituinte e nos primeiros parlamentos nacional e regional, os hemiciclos eram constituídos “por pessoas que tinham a sua vida, eram administradores, empresários, advogados” e “conheciam o que era a realidade da sociedade civil”, lembrou.

“Essa ideia de ter o político numa redoma, isolado, sem experiência da vida prática e da vida que todos os dias os cidadãos normais têm é mau porque, por um lado, os políticos não têm independência, ficam dependentes do chefe político, e, por outro lado, depois não têm nem a visão humanista, nem o ‘background’ para atuar sobre a realidade”, argumentou, insistindo ser má ideia “fechar as portas, funcionalizar os políticos”.

Miguel Albuquerque salientou ainda que, neste momento, é o “único político no ativo na Madeira da sua geração”, existindo uma diferença de quase 10 anos em comparação com atual geração a nível nacional.

Relativamente à sua sucessão no PSD/Madeira, o líder da estrutura regional assegurou tratar-se de “um partido maduro” que saberá encontrar uma solução, tal como aconteceu há 10 anos, quando substituiu o histórico líder madeirense Alberto João Jardim, que esteve à frente do executivo e do partido durante quase quatro décadas.

Nessa altura, realizaram-se eleições internas no PSD/Madeira, concorreram seis candidatos e “tudo correu bem”, recordou.

“Portanto, o partido tem sempre essa capacidade de renovação e de se renovar, não vale a pena estarmos aqui a fazer previsões. Quatro anos é muito tempo, aqui no caso é quatro e meio, e vamos ter tempo até lá para encontrarmos soluções”, anteviu.

Em novembro de 2012, Miguel Albuquerque defrontou pela primeira vez Alberto João Jardim em eleições interna, saindo derrotado por 142 votos.

Dois anos depois, foi eleito líder do PSD/Madeira em 29 de dezembro de 2014, numa segunda volta de novas eleições internas, com 64,06% dos votos, contra 35,94% de Manuel António Correia.

Desde 20 de abril de 2015 que é presidente do Governo Regional da Madeira.

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