Advogados denunciam tortura de migrantes venezuelanos detidos em El Salvador

Os advogados de 252 migrantes venezuelanos deportados pelos EUA e mantidos há dois meses numa prisão de alta segurança em El Salvador denunciaram hoje tortura alegadamente sofrida pelos seus clientes.

“São tratados como criminosos comuns”, acusou o advogado Salvador Rios, mostrando fotos de migrantes vestidos com fardas de reclusos e com a cabeça rapada, em declarações à agência France-Presse, a quem falou de casos de “tortura física e psicológica”.

O escritório de advogados Grupo Ortega, contratado pelo Governo venezuelano para defender estes migrantes, não conseguiu visitar os reclusos encarcerados no Centro de Contenção do Terrorismo nem obter “provas de vida”, enfrentando o silêncio do Governo e da justiça salvadorenha.

O escritório apresentou um recurso no Supremo Tribunal de El Salvador, a 24 de março, para colocar um fim ao que chama de “detenção ilegal” de venezuelanos deportados pelos Estados Unidos que chegaram ao país a 16 de março.

No início deste mês, os advogados já tinham enviado uma carta ao Presidente salvadorenho, Nayib Bukele, um aliado do Presidente dos EUA, Donald Trump, na luta contra a imigração ilegal.

Para expulsar os migrantes, o Governo de Trump invocou legislação utilizada em tempo de guerra e enviou-os para El Salvador, alegando que eram membros do gangue venezuelano Tren de Aragua, um grupo criminoso multinacional declarado organização terrorista por Washington.

Os 252 venezuelanos – juntamente com 36 migrantes salvadorenhos expulsos pelos Estados Unidos – continuam isolados do mundo exterior no Centro de Contenção do Terrorismo, uma enorme prisão criada pelo Presidente Bukele no âmbito da sua luta contra os gangues.

Na carta a Bukele, os advogados solicitaram permissão para realizarem uma “conversa profissional” com os detidos, pessoalmente ou virtualmente, que pudesse servir como “prova de vida”.

Naquele centro de detenção estão detidos milhares de membros de gangues, para além de 36 migrantes salvadorenhos enviados por Washington, como Kilmar Abrego Garcia, que foi expulso “por engano”, como reconheceu Washington.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos manifestou recentemente preocupação com o grande número de estrangeiros expulsos dos Estados Unidos e, em particular, com o destino dos venezuelanos e salvadorenhos enviados para este centro de detenção.

Em abril, Nayib Bukele ofereceu ao Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a opção de trocar os 252 migrantes pelo mesmo número de “prisioneiros políticos” venezuelanos – uma proposta imediatamente rejeitada pelo Governo venezuelano.

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