A cerimónia do Dia da Universidade da Madeira, celebrada a 7 de maio, coincidiu com a tomada de posse do novo Reitor e da sua equipa. Um momento solene, de reconhecimento e de esperança. Mas seria um erro deixá-lo passar apenas como ritual ou celebração. A Universidade da Madeira precisa mais do que simbolismo, precisa de respostas concretas.
É incontestável que a UMa tem crescido. Diplomou já mais de 14 mil estudantes, com uma média anual de mais de 600 diplomados. Estes números revelam o impacto da universidade no território e na mobilidade social da Região. A UMa consolidou-se como um pólo de conhecimento, inovação e acolhimento. Hoje, integra redes internacionais como a EUniWell, aposta na digitalização e atrai estudantes de várias origens. Está mais aberta, mais conectada, mais relevante. Mas este crescimento foi feito à custa de persistência, e não de condições. A realidade estrutural da universidade não acompanhou a evolução da sua missão. Hoje, a UMa enfrenta um duplo bloqueio, instalações saturadas e subfinanciamento crónico, sem qualquer majoração estável para os custos da insularidade. A própria Comissão Europeia já reconheceu a necessidade de compensações acrescidas para as regiões ultraperiféricas, mas, internamente, essa compreensão tarda.
A remoção do projeto de ampliação do CITMA do Plano de Recuperação e Resiliência é um exemplo. Estava previsto acolher o novo politécnico universitário. Foi retirado. E enquanto isso, as salas continuam superlotadas, os espaços exaustos, a investigação limitada por falta de meios físicos e humanos. Não se pode continuar a exigir mais à universidade com cada vez menos. Esta é uma equação que não fecha. O que está em causa não é apenas conforto ou eficiência, é a qualidade pedagógica, é a saúde mental dos estudantes e profissionais, é a ambição científica da própria instituição.
Celebrar é justo. Mas ao celebrar não se pode esquecer. A UMa precisa de um investimento sério, duradouro, previsível. Precisa de infraestruturas modernas, de financiamento justo e de políticas públicas que reconheçam o papel estratégico da universidade no desenvolvimento regional.
Além disso, a transformação da UMa exige um reforço da voz estudantil. O novo ciclo político nacional deve dar atenção ao regime jurídico das instituições de ensino superior e à representação dos estudantes. Uma universidade democrática exige estudantes como parceiros, não apenas como destinatários passivos de decisões.
A autonomia universitária também precisa ser defendida com firmeza. Basta olhar para os Estados Unidos, onde mais de 400 líderes universitários se uniram contra a interferência política na vida académica. A liberdade de pensamento, o pluralismo e a crítica não são garantias, são conquistas a manter, aqui também.
A Universidade da Madeira é hoje mais sólida do que há quatro anos. Mas não está onde devia estar. E cada ano sem mudança estrutural é um ano perdido, para a Madeira, para os seus jovens, para o seu futuro. A universidade não é uma marca. É uma comunidade. E essa comunidade tem de continuar a exigir, a pensar, a propor. A nossa missão nunca foi apenas resistir. Foi transformar. Essa transformação começa pela palavra e cumpre-se nos atos.