Num contexto global em constante mudança, a enfermagem está em profunda metamorfose. Ficaram para trás os tempos em que esta profissão se centralizava na prestação técnica de cuidados. A enfermagem hoje assume-se como ciência aplicada, com saber próprio, espírito crítico e compromisso com a melhoria contínua de cuidados prestados.
O caminho da afirmação da investigação em enfermagem, tem sido árduo, mas profícuo. Aos poucos, tem demonstrado o papel essencial que tem não apenas no progresso da profissão, mas acima de tudo na garantia de cuidados de saúde mais seguros, eficazes e centrados na pessoa.
A enfermagem moderna já não se limita ao domínio da experiência ou da intuição. A complexidade e a exigência dos contextos clínicos impõem respostas alicerçadas, cada vem mais, na evidência científica.
Perante as crescentes exigências enfrentadas pelos sistemas de saúde — nomeadamente o aumento da esperança média de vida, a prevalência das doenças crónicas e a sobrecarga dos serviços — a investigação em enfermagem assume um papel fundamental no desenvolvimento de respostas eficazes e sustentadas.
Investigar é mais do que publicar artigos. É o exercício de refletir acerca dos desafios da prática, identificar problemas emergentes, questionar rotinas, testar intervenções inovadoras, avaliar resultados e propor soluções sustentadas no melhor conhecimento, acrescentando valor aos cuidados prestados.
A produção de conhecimento científico por enfermeiros permite transformar a experiência clínica em inovação, orientar políticas de saúde e promover intervenções que fazem a diferença na vida dos doentes.
Mais do que um argumento académico, trata-se de uma realidade comprovada: estudos internacionais sugerem que a qualidade e segurança dos cuidados depende, em larga medida, da qualidade científica da prática de enfermagem e da qualidade formativa dos enfermeiros que usam a evidência científica mais recente para fundamentar a sua intervenção clínica.
Importa, igualmente, salientar que a investigação contribui para consolidar o futuro da própria profissão, valorizando os contextos onde os enfermeiros atuam, validando as suas intervenções e, com isso, fortalecendo a autonomia científica e clínica da enfermagem.
Todavia, para que a investigação exerça o seu papel transformador, é necessário garantir um conjunto de condições organizacionais que a sustentem, nomeadamente acesso a financiamento, integração em centros de investigação, tempo dedicado nos diversos contextos clínicos e valorização institucional do trabalho científico dos enfermeiros.
Neste âmbito importa reconhecer, com apreço, a visão estratégica da Direção de Enfermagem do SESARAM e do Grupo de Investigação em Enfermagem que, com elevado sentido de missão, promoveram a realização do II Seminário de Investigação em Enfermagem “Da evidência ao cuidar: enfermagem que transforma”, criando deste modo um espaço de partilha, reflexão e valorização do conhecimento produzido por enfermeiros. Assumiram, assim, o compromisso institucional com a ciência e a prática baseada na evidência, posicionando-se na vanguarda da inovação em saúde, afirmando que o futuro dos cuidados passa, inquestionavelmente, pela investigação de qualidade levada a cabo por quem está mais próximo da pessoa cuidada.
Aos mais céticos – que ainda não veem a investigação desta perspetiva –, importa relembrar que investigar é assegurar que toda a decisão clínica tem fundamento, que cada intervenção tem um propósito, que cada doente é cuidado com o melhor que o conhecimento atual pode oferecer e essa é a forma de garantir cuidados enfermagem seguros e com a qualidade que cada doente deseja e merece.