ONG acusa Burkina Faso de massacres étnicos que mataram pelo menos 230 pessoas

Testemunhas fulas disseram que a campanha militar deslocou a maior parte da população dessa etnia da província de Banwa, mas que “outras comunidades [étnicas] permanecem”.

A Human Rights Watch (HRW) acusou hoje o exército do Burkina Faso de ter participado e causado o massacre de pelo menos 230 civis de etnia Fulani na zona ocidental do país em março deste ano.

Segundo a organização de defesa dos direitos humanos, a morte destes civis teve origem num massacre nos arredores da cidade de Solenzo, capital da província de Banwa, durante a operação militar “Green Whirlwind 2” perpetrada pelo exército e milícias pró-governamentais, em que, durante uma semana, houve a “morte generalizada” e uma “deslocação maciça” da população fula (um grupo étnico que pode ser encontrado em vários países da África ocidental, nomeadamente a Guiné-Bissau).

A campanha “Green Whirlwind 2” começou em 27 de fevereiro na província de Banwa e continuou para norte, em direção à província de Sourou, até 02 de abril, indicou a HRW.

A Organização Não-Governamental (ONG) não conseguiu estimar o número total de mortos nos ataques na província de Banwa porque os sobreviventes não puderam regressar às áreas onde ocorreram os assassinatos para enterrar os mortos.

No entanto, a organização recebeu oito listas de pessoas mortas nos ataques, compiladas por sobreviventes, que contêm nomes de 130 mortos, incluindo 32 menores de idade.

Após as operações perto de Solenzo, os militares prosseguiram em direção a Sourou, que estava sob o controlo do Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (JNIM) – afiliado da Al-Qaida – há mais de sete anos.

Por sua vez, de acordo com a HRW, o JNIM levou a cabo uma série de ataques de retaliação em Sourou, “aparentemente visando aldeias que o grupo rebelde considerava estarem a ajudar os militares, matando pelo menos 100 civis”.

Para a investigadora sénior da HRW para o Sahel, Ilaria Allegrozzi, “uma investigação mais aprofundada revelou que os militares do Burkina Faso foram responsáveis por estes assassínios em massa de civis fulas, a que se seguiram represálias mortíferas por parte de um grupo armado islâmico. O Governo tem de investigar imparcialmente estas mortes e processar todos os responsáveis”.

A ONG explicou, no comunicado, que entre 14 de março e 22 de abril deste ano entrevistou por telefone e pessoalmente 27 testemunhas dos ataques, dois membros das milícias e quatro jornalistas e membros da sociedade civil.

Segundo uma das testemunhas, um pastor fula de 44 anos de Solenzo, que perdeu oito membros da sua família, “milhares de pessoas fulas de mais de 20 aldeias fugiram para o Mali”.

Alguns aldeões afirmaram à ONG que, algumas semanas antes dos ataques, chefes das aldeias e até membros das milícias avisaram as populações “para o facto de estarem a decorrer preparativos para uma operação militar”.

Testemunhas fulas disseram que a campanha militar deslocou a maior parte da população dessa etnia da província de Banwa, mas que “outras comunidades [étnicas] permanecem”.

A HRW contextualizou que os grupos armados islâmicos têm concentrado os seus esforços de recrutamento na comunidade fula, e o Governo do Burkina Faso e os seus apoiantes há muito que confundem essa comunidade com os “grupos armados”.

“Todas as partes envolvidas no conflito armado no Burkina Faso estão vinculadas ao direito humanitário internacional, que proíbe ataques a civis, execuções sumárias, pilhagens e outros abusos”, recordou a ONG.

A HRW frisou ainda que o homicídio e outras infrações cometidas no âmbito de um ataque generalizado ou sistemático contra uma população civil constituem crimes contra a humanidade.

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *