Ser ou não ser pontual?

Todos nós nascemos com a capacidade de chegar, iniciar ou concluir algo no horário estabelecido. A isso, tecnicamente chamamos de pontualidade. Para os Alemães a pontualidade é uma norma social, considerada a “cortesia dos Reis”, um orgulho nacional revelador de autodisciplina, profissionalismo e respeito pelo tempo dos outros. Os Japoneses, são completamente obcecados pela pontualidade. Em regra, chegam 5 a 10 minutos antes do combinado, e em 2017 a empresa Tsukuba Express, emitiu um pedido de desculpas oficial, por um dos seus comboios ter saído, 20 segundos…mais cedo. Contudo, aquele ponto marcado no tempo essencial para sermos pontuais, confesso que por vezes não o consigo cumprir, nem que fosse Alemão ou Japonês de gema. Isto porque, nas situações que chego ao Tribunal à hora marcada, a audiência nunca começa a horas, e quando por qualquer razão me atraso, começa com o rigor de um relógio suíço. Dificilmente acertamos.

Por muito que me esforce, a Justiça não deve muito à pontualidade, isto porque a “A Justiça tarda, mas não falha!!”. Sempre que me meto no carro às 8h00 ou 18h00, fico preso no trânsito, e atraso-me, porque todos teimaram em ser pontuais à mesma hora. Ainda em relação à pontualidade, lembro-me que em Coimbra, o relógio da torre da Faculdade de Direito, estava 15 minutos atrasado, para que todos pudessem beneficiar do – quarto de hora académico -. Apesar da rigidez secular da Universidade, existia esta tolerância para um atraso, para o imprevisto, para a caixa fora do formato. Uma pontualidade como regra flexível. A pontualidade em relação à produtividade também pode ser bipolar, tanto serve para chegar à hora marcada, como também serve de desculpa para não acabarmos a tarefa e sermos pontuais na saída. Quem nunca ouviu “Estamos a fechar, volte amanhã”. Ser pontual pode revelar que a pessoa é organizada, ou por outro lado, quer chegar a horas porque é ansiosa. As pessoas que são pontuais têm a tendência para serem, mais disciplinadas, organizadas e cumpridoras. Os atrasados, podem ser mais otimistas, descontraídos e criativos.

Nos dias de hoje, o tempo literalmente voa, e não é pouco. Organizar o nosso tempo, pode ser uma tarefa difícil e stressante, especialmente quando o atraso do outro, leva a que o efeito “bola de neve”, também afete os nossos compromissos.

Existe também uma questão cultural, uma vez, alguém com responsabilidade num Tribunal, disse-me numa audiência em alto e bom som: – “As pessoas é que devem esperar pelo Tribunal, e não o Tribunal é que deve esperar pelas pessoas”. Ora bolas, ninguém deve esperar por ninguém, existe sim um compromisso e o respeito de se desculpar se chegarmos atrasados. A pontualidade também, é encarada de forma diferente pelas diversas Gerações. Pesquisas recentes, concluíram que a Geração que está a entrar no mercado de trabalho, acredita que chegar 5 ou 10 minutos atrasado ainda é considerado pontual, pois o seu foco é o uso eficiente e produtivo do seu tempo.

Eu que me lembre, foram mais os atrasos nas reuniões, marcações e diligências nos Tribunais ao longo da minha carreira, do que as que começaram à hora marcada.

Devemos ser ou não ser pontuais? Julgo que sem stress, sem dogmas ou excessos, devemos fazer um esforço para o ser, pois no plano pessoal revela respeito, consideração e afeto, e no plano profissional, revela planeamento e responsabilidade, duas características que escasseiam em Portugal e que contribuem para o seu atraso.

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