Nessa data escrevi o texto abaixo. 3 meses depois o COVID colocaria o turismo em suspenso, tendo a retoma “explodido” o sector, muito devido ao trabalho de Eduardo Jesus. Julgávamo-nos uma terra de turismo, e na verdade só o erámos por tradição. E, convenhamos, pior que turismo “a mais” é turismo “a menos”. Mas como é um trabalho sempre inacabado, torno-o público neste novo ciclo político, por manter a pertinência:
“(…) A Madeira não tem uma “vocação” óbvia, como outros destinos concorrentes. Não é de sol e praia, é vagamente de natureza, e não é de luxo. É um bocadinho de tudo. Sabemos também que a venda dos destinos para targets específicos, depende em boa medida de um calendário de eventos. […]
Somos um território Insular com clima ameno, segurança e conforto. O mercado dos cruzeiros e iates de luxo, em fase de consolidação, é um objetivo realista. Porém, não é fútil fazer benchmarking com outras latitudes.
A Região tem como grande desígnio beneficiar de autonomia total em termos fiscais. Nesse sentido parece óbvio aprofundar os benefícios fiscais já existentes no país no que diz respeito aos instrumentos do turismo residencial e de residentes não habituais. Mas para isso temos de oferecer um conjunto de brands que vão ao encontro daquilo que esse target espera.
Uma Mónaco ou Macau do Atlântico? Porque não? Naturalmente adaptada à realidade de uma Região Europeia de pleno direito, a ideia de capacitar a nossa oferta conexa de funcionalidades premium não é de todo utópica. Até porque debatemo-nos com a constatação de que já é muito caro cá chegar. Logo, o nosso visitante alvo tem vindo a moldar-se como alguém com capacidade financeira, perfil que exige um determinado tipo de atrações.
Desde logo assentes em 3 eixos:
• Oferta de Jogo
• Desportos premium (automobilismo e Ténis /Golfe)
• Oferta de Eventos culturais
i) No que diz respeita ao jogo […] é preciso assumir que este não atinge os mínimos Olímpicos. Um destino como a Madeira é, e como pretende ser, exige outra dignidade neste braço fundamental da oferta premium. (…)
Uns dos locais mais óbvios para a localização de um novo e devidamente dimensionado pólo de jogo seria no, entretanto suspenso, projeto do Toco. […] O mercado chinês em Portugal, praticamente inexistente no início da década (i.e. passada), cresceu exponencialmente com a legislação dos benefícios fiscais para não residentes aliado ao aumento da oferta de jogo na capital. Falta fazermos esse caminho.
ii) Com o golfe consolidado no leste da Ilha e no Porto Santo, e expansão para a ponta oeste, parece-me crítico o acolhimento de uma prova Internacional de ténis. A entrada no circuito Challenger não se afigura particularmente difícil se escolhidos os parceiros certos. É um tipo de evento que não implica um investimento muito significativo (125mil US $ + alojamento). Os torneios de topo desta disciplina ombreiam em termos de visibilidade com os ATP 250. Começando “por baixo” seria de consolidar a oferta/evento, espreitando uma desistência para subir ao circuito ATP. […]
No automobilismo, e ainda que o rali Vinho Madeira ocupe um lugar muito particular no coração dos madeirenses, penso que já passou para o entendimento colectivo que o “rali” é mais uma grande festa para os autóctones, com repercussão mínima ou nula no exterior.
Seria de equacionar a aposta numa “Fórmula” (monolugares), confiando num circuito citadino. O perfil da Avenida do Mar/Sá Carneiro como óbvia reta da meta (com ponte amovível na rotunda Sá Carneiro, como em Macau) pode ser complementado por um conjunto de soluções de traçado nas vias envolventes, com a componente sempre atrativa do efeito túnel. O projeto teria igualmente de começar, necessariamente, por uma Fórmula monomarca, subindo para as Fórmulas de topo com a consolidação do evento […].
iii) Não existe figura histórica maior e mais consensual no imenso continente americano, do Cabo Horn à Terra Nova, que o “nosso” Colombo. Foi na Madeira que viveu e cresceu enquanto homem e marinheiro, e é fundamental que vendamos isso. Se em Génova tiveram de inventar uma casa onde Colombo supostamente nasceu, nós temos muito mais facilidade em localizar sítios tangíveis onde este deixou a sua marca. Seria interessante realizar uma Conferência Internacional, um evento de grande dimensão […] com entidades de diferentes quadrantes, acadêmicos americanos, embaixadores culturais, empresariais e turísticos entre as duas margens do atlântico. Encomendar um documentário sobre Colombo e a Madeira […] envolvendo o Turismo de Portugal, a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e parceiros privados.
Falta também divulgar um grande evento musical na Madeira, e porque não o Funchal Jazz? Tem sempre um bom cartaz. O consumidor de jazz tem capacidade financeira e percorre o circuito de festivais. Mas falta cumprir a promoção exterior para que seja conhecido”.