Comunidade LGBT marchou no Porto contra o silêncio da agenda política

Manifestação hoje, no Porto.

Cerca de 100 pessoas protestaram hoje, no Porto, numa marcha contra o apagamento da agenda política dos direitos da comunidade LGBT, exigindo a reposição nas escolas do manual para a identidade de género e para a diversidade.

Reunidas na Praça do Marquês, seguiram depois pelo baixa do Porto até à Avenida dos Aliados onde, no final, tencionam reunir contributos sobre o que são as suas preocupações e posições para fazer chegar aos decisores políticos.

Filipe Gaspar, da organização da Marcha do Orgulho LGBTI+, explicou à Lusa a intenção de colocar os problemas daquela comunidade na agenda da campanha eleitoral para as próximas eleições legislativas e que, sublinhou, “querem ver asseguradas, como prioritárias, algumas das condições que apresentam”.

“Nós vimos que o retrocesso está a acontecer já com este Governo (…) com a retirada das escolas do manual para a identidade de género e para a diversidade. Vemos, por exemplo, tentativas de tornar inconstitucional a criminalização das terapias de conversão. Vemos um aumento enorme do discurso de ódio e que, de facto, não entendemos”, disse.

Neste contexto, precisou o porta-voz da organização, exigem a reposição do manual retirado das escolas, ter melhores condições no acesso ao Serviço Nacional de Saúde, a quem apontam “muitos atrasos no que toca às questões das consultas de identidade de género”, o que o faz considerar “que há pouco investimento nessa área”.

Querem também a “criação de centros comunitários, que permitam o encontro destas populações, mas também para produzir cultura, um espaço de debate das ideias da comunidade e que crie uma interação entre o público, entre as pessoas”, relatou.

Mantendo o ímpeto crítico, Filipe Gaspar lamentou “a ausência de medidas ou de políticas públicas que assegurem que a consciência social também acompanhe o crescimento e o amadurecimento das pessoas em relação a estas questões”.

“A população existe, ela está cá, não vai desaparecer, é uma população que está aqui para contribuir, mas estamos a ser empurrados pelo discurso de ódio e também por um grande ataque da extrema-direita”, criticou.

Na conversa que decorreu junto a cartazes onde se liam as frases “Pão e cravos”, “Liberdade a sério”, “O nosso direito a vida autêntica não devia depender de um sistema quebrado”, “Queer love” e ainda “A saúde é um direito e não um negócio”, o porta-voz explicou que a “marcha sempre foi muito interseccional, no sentido em que toca várias situações”.

“A união das lutas no movimento LGBT, vem porque, mediante estes recortes que existem na vida das pessoas, elas se unificam nesta luta. Então, claro, a luta da habitação também é nossa, a luta da educação também é nossa, porque sabemos que se não houver políticas públicas especializadas, ou pelo menos com um olhar para aquilo que são as nossas vivências, também estamos com problemas”, explicou.

Filipe Gaspar apontou depois o dedo às políticas do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pela “perseguição que está a fazer à população trans, que é 1% da população do país”, mencionando também “na própria Europa, através da proibição dos movimentos ou das manifestações livres que deviam ser das pessoas, no caso da Hungria” para ilustrar os retrocessos somados.

“Parece que estão a tentar encontrar culpados para a crise, culpados e culpadas para esta crise, como se fossem as pessoas queer, ou as pessoas mais fragilizadas, no caso das pessoas migrantes”, lamentou o responsável, que culpabilizou quem quer “desumanizar uma parte da população”.

Alguns dos manifestantes apresentaram-se com bandeiras da Palestina.

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *