A 2 de maio, o Clube de Ecologia Barbusano, da Escola Secundária Francisco Franco, realizou uma palestra intitulada ‘A Importância da Vegetação na Prevenção dos Fogos’.
O palestrante, Raimundo Quintal, foi o fundador deste clube, no ano de 1988. “Com um currículo extenso, muito virado para a Botânica e a Geografia, tem publicados vários trabalhos e documentários televisivos sobre essas temáticas. Além disso, foi vereador independente, com o pelouro do ambiente na Câmara Municipal do Funchal, entre 1994 e 2004, tendo criado o Parque Ecológico do Funchal. Anos mais tarde, fundou a Associação dos Amigos do referido Parque. Este investigador iniciou a palestra fazendo o historial do coberto vegetal da Ilha do Porto Santo, tendo enfatizado que a Laurissilva nunca existiu nessa ilha. Originalmente, a vegetação do estrato arbóreo seria dominada por plantas xerófilas, adaptadas a climas quentes e secos tais como, Oliveira-brava, Dragoeiro, Zimbreiro e Barbusano”, refere o estabelecimento de ensino, em comunicado.
Relativamente a esse espaço, destacou que a pressão humana sobre o território, exercida por atividades como a pastorícia, a agricultura e, mais recentemente, a pressão urbanística, degradaram de forma substancial a vegetação nativa da ilha. Na sua abordagem, acrescentou que, apesar do drama dos incêndios não afetar esse território, a desertificação e a erosão dos solos são questões delicadas que merecem muita atenção, tendo mencionado algumas ações de reflorestação com plantas exóticas, tais como o pinheiro. Nesse sentido, destacou que a opção por plantas indígenas é uma boa medida. Além disto, enfatizou que a praga dos coelhos é um problema sério, visto estar a afetar, de forma negativa, os esforços de reflorestação do território e causado danos na agricultura.
Seguidamente, o botânico referiu-se à situação da ilha da Madeira, tendo esclarecido que os povoadores, quando cá chegaram, não encontraram a Laurissilva estabelecida no território desde o litoral até aos píncaros da ilha. Nas áreas mais próximas do litoral dominariam plantas xerófilas, tal como hoje ainda se verifica nas zonas a salvo da ação humana. Destacou o facto de que a Laurissilva dominaria a paisagem nas áreas onde o ambiente era mais fresco e húmido. Porém, as zonas de maior altitude seriam ocupadas por um coberto vegetal semelhante àquele que ainda hoje se observa em zonas não alteradas pelo Homem. Nestas áreas, verificaríamos, tal como hoje, o domínio do loureiro, entre as lauráceas.
Na sua apresentação, Raimundo Quintal enumerou um conjunto de situações que causaram a destruição do coberto vegetal nativo na ilha da Madeira, tendo destacado a cultura da cana sacarina, que requeria uma quantidade elevadíssima de combustível vegetal para a laboração dos engenhos. A vegetação era, igualmente, utilizada para a produção de carvão, de mobiliário, de materiais para a construção civil, de combustível para uso doméstico e alimentação do gado. Outro dos fatores, e causa relevante, que contribuiu para a degradação do coberto vegetal foi o pastoreio desordenado. O professor salientou que essas atividades levaram a que as serras ficassem desprovidas de vegetação, o que favoreceu a ocorrência de aluviões, tendo estas causado muita destruição e morte. Neste sentido, enumerou um conjunto de personalidades que envidaram esforços para a proteção das populações face a estas catástrofes, entre as quais, o brigadeiro Oudinot. As medidas então implementadas incluíram a construção de muralhas nas principais ribeiras, a reflorestação das áreas mais afetadas pelo corte excessivo da vegetação, assim como o controlo do pastoreio.
No período de debate, e respondendo a várias questões, referiu algumas medidas importantes tais como: que as faixas corta-fogo existentes devem estender-se para fora do concelho do Funchal e que o trabalho de manutenção nessas áreas deve ser contínuo; que a colocação de açudes nas ribeiras é uma medida preventiva das aluviões; que os incêndios, ao destruírem a cobertura vegetal do solo, impedem que a água das chuvas se infiltre, arrastando o solo e outros materiais para as linhas de água, aumentando o risco de aluviões; que o elevado número de turistas que visita as áreas naturais está a ameaçar o equilíbrio das mesmas, devendo ser determinada a capacidade de carga destas áreas e o controlo do seu acesso, como já se faz nos Açores. Por fim, destacou a importância da Encíclica Laudato Si, Louvado Sejas, do Papa Francisco, que alerta a Humanidade sobre o ‘Cuidado da Casa Comum’, a Terra.