Uma equipa de astrónomos conseguiu ouvir a “música” e explorar o interior de um tipo de estrela considerada até agora demasiado silenciosa para ser investigada, revela um estudo divulgado na terça-feira no The Astrophysical Journal.
A partir do observatório W. M. Keck, no Havai (Estados Unidos), os cientistas utilizaram um dispositivo com tecnologia de ponta, o Keck Planet Finder (KPF), para detetar as oscilações ondulantes na estrela HD 219134.
Tal como os instrumentos musicais, as estrelas ressoam com frequências naturais que os astrónomos podem “ouvir” com as ferramentas certas, um campo de investigação designado de asterossismologia, que estuda a estrutura interna de estrelas através da leitura das suas frequências.
“As vibrações de uma estrela são como a sua canção única”, disse Yaguang Li, principal autor e investigador de pós-doutoramento no Instituto de Astronomia da Universidade do Havai (IfA), num comunicado citado hoje pela agência noticiosa privada espanhola Europa Press.
“Ao ouvir estas oscilações, podemos determinar com precisão a massa, o tamanho e a idade de uma estrela”.
Até agora, as “canções estelares” foram gravadas principalmente a partir de estrelas mais quentes do que o Sol, utilizando telescópios espaciais da NASA, como o Kepler e o TESS.
Mas as oscilações da HD 219134 — uma estrela mais fria e de tom alaranjado, a apenas 21 anos-luz de distância — são demasiado subtis para serem detetadas pelas variações de brilho analisadas com aqueles telescópios.
Durante quatro noites consecutivas, a equipa utilizou o KPF para recolher mais de 2.000 medições ultraprecisas da velocidade da estrela, captando as suas vibrações em ação.
Na “primeira dedução asterossísmica da idade e do raio de uma estrela fria usando o KPF”, os cientistas determinaram a idade da HD 219134 em 10,2 mil milhões de anos, mais do dobro da idade do Sol, medição que “tem implicações importantes para a compreensão do envelhecimento estelar”.
Descobriram também que esta estrela parece mais pequena do que era indicado por outro tipo de medições que não a asterossísmica.
Segundo o estudo, a HD 219134 abriga uma família de pelo menos cinco planetas, incluindo dois mundos rochosos que terão composições semelhantes à da Terra, tendo a medição mais precisa do volume da estrela permitido aos cientistas refinar os tamanhos e as densidades destes planetas.