Apagão: Sánchez no parlamento de Espanha hoje para falar do corte elétrico

O parlamento de Espanha vai debater hoje, por iniciativa do primeiro-ministro do país, Pedro Sánchez, o apagão na Península Ibérica de 28 de abril, que teve origem em território espanhol mas cujas causas se desconhecem.

Sánchez já tinha previsto ir hoje ao Congresso dos Deputados explicar, a seu pedido, o aumento este ano do orçamento para defesa e segurança até 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Na sequência do apagão, afirmou que juntaria as questões relacionadas com a energia aos temas que levará hoje ao plenário espanhol.

O apagão inédito de 28 de abril afetou Portugal e Espanha continentais e os dois governos criaram comissões de investigação para apurar as causas.

Espanha revelou que, na sequência das primeiras análises de milhões de dados fornecidos pelas empresas que operam o sistema de geração e distribuição de eletricidade no país, foram identificadas três falhas segundos antes do apagão.

Em concreto, houve um corte de geração 19 segundos antes no sul de Espanha e, depois, num intervalo de cinco segundos, outras duas “perdas de geração” seguidas no sudoeste do país, que culminaram no apagão.

A investigação tenta agora “ver se há relação” entre estes três cortes na geração de eletricidade e perceber por que motivo o sistema “não conseguiu amortecer” estas perturbações, como normalmente acontece, disse na segunda-feira a ministra com a tutela da energia, Sara Aagasen.

Espanha não descarta para já qualquer hipótese, incluindo um ciberataque, afirmou a ministra.

A empresa que gere a rede elétrica nacional espanhola (REE – Red Eléctrica) afastou a possibilidade de um ciberataque à companhia logo no dia seguinte ao apagão, mas o governo tem sublinhado que há mais de 30 operadores no mercado, com centros de controlo distribuídos por todo o território, e que todas as possíveis explicações continuam em aberto.

“O Governo de Espanha vai chegar ao fundo deste assunto” e, perante as conclusões, vai fazer reformas e adotar as medidas necessárias “para que não volte a acontecer”, assim como “exigir todas as responsabilidades pertinentes aos operadores privados”, assegurou Pedro Sánchez em 29 de abril.

Em Espanha, o debate político em torno do apagão tem-se centrado na aposta nas energias renováveis, defendida por Sánchez, em detrimento de outras fontes de geração, como a nuclear.

Espanha tem cinco centrais nucleares em funcionamento que deverão encerrar entre 2027 e 2029, por decisão dos governos liderados pelo socialista Pedro Sánchez e contra o que defende a oposição de direita e extrema-direita.

Os críticos do fecho das centrais nucleares têm sublinhado o peso maioritário das renováveis no fornecimento de energia no momento do apagão e sugerem que aí está a causa do colapso, por serem fontes de produção elétrica mais instáveis, que causam perturbações no sistema.

O Governo e a REE já desvincularam por diversas vezes as renováveis do apagão e, na segunda-feira, Sánchez voltou a defender a necessidade de continuar a avançar com a “imprescindível transição energética” para energias verdes, que dão mais segurança e competitividade, assim como possibilitam acesso a eletricidade mais barata.

Já o líder da oposição e do Partido Popular (PP, direita), Alberto Núñez Feijóo, defendeu na terça-feira que o apagão demonstrou que existem fragilidades para garantir o abastecimento de eletricidade em Espanha e incapacidade de gestão do sistema.

“Espanha pode ter uma energia limpa, barata e segura”, mas com o suporte de tecnologias de geração firme, como a nuclear, disse Feijóo.

Sánchez foi ainda acusado de “apagão informativo” pela oposição, por ter demorado quase seis horas a falar ao país no dia do apagão, crítica que deverá voltar a ouvir hoje no parlamento.

Tanto o PP como o Partido Socialista (PSOE) anunciaram entretanto que vão propor a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito ao apagão.

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