A economia ucraniana, quase estagnada desde 2010 e que se afundou devido à invasão da Rússia em 2022, está a resistir, mas a tímida recuperação registada desde então deve desacelerar neste ano e no próximo, segundo a OCDE.
Num relatório publicado hoje, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) afirma que não espera mudanças enquanto durar a guerra e estima que, após uma recuperação de 5,5% em 2023 e de 2,9% em 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) da Ucrânia crescerá 2,5% este ano e 2% no próximo ano.
Os autores do estudo sublinham que a invasão russa deslocou um quarto da população da Ucrânia, dentro ou para fora do país, e que a destruição de casas, empresas e infraestruturas representa aproximadamente 2,5 vezes o PIB do país.
Também afirmam que somente em 2022, a atividade recuou em mais de um quarto, e que o PIB naquele ano foi de apenas 71% do que era em 2010.
O crescimento ocorrido desde então colocou o PIB em 2024 em 77% do que era em 2010.
A perspetiva não é boa e está cercada de “extrema incerteza”, principalmente devido à situação de segurança.
“A destruição contínua de empresas e infraestrutura, a escassez de energia e mão-de-obra e as pressões fiscais limitarão a recuperação”, alerta a OCDE.
Nessa linha, a OCDE acredita que, como os orçamentos de defesa absorvem 25% do PIB, o défice público permanecerá em níveis estratosféricos, como em anos anteriores (19% do PIB neste ano e 20% no próximo, após 20,4% em 2023 e 17,5% em 2024).
“Assim que a situação de segurança se estabilizar, o ritmo e a qualidade da implementação das reformas, o apoio externo e os movimentos populacionais determinarão o ritmo do investimento e da recuperação”, acrescentou.
Quando chegar esse momento, uma das prioridades da OCDE é uma política monetária que contenha a inflação (estima-se que suba para 13,2% este ano, depois de ter ficado relativamente contida em 6,5% em 2024) e que permita conter o défice com objetivos de médio prazo.
Também exigirá “gestão fiscal sólida e transparente”, melhorando a eficiência dos gastos e abordando o que tradicionalmente têm sido os problemas da economia ucraniana: “corrupção”, “integridade pública” e barreiras regulatórias.
A organização observa que, embora a Ucrânia tenha feito um “progresso significativo” nesta área, “a corrupção continua a ser uma grande preocupação que distorce a concorrência e limita o dinamismo dos negócios”.
Os autores do estudo presumem que as restrições da lei marcial e a primazia da defesa congelaram a implementação de muitas reformas. Mas enfatizam que “será vital garantir que as reformas sejam totalmente implementadas assim que as condições permitirem”.
Um dos desafios que o país enfrenta é a escassez de mão-de-obra, que, embora já apresentasse queda desde o início do século (a força de trabalho caiu de 23,2 milhões de pessoas em 2000 para 20,3 milhões em 2021), voltou a sofrer uma queda considerável quando o país foi invadido pela Rússia.
Com a mobilização de cerca de um milhão de pessoas para defender o país e o deslocamento de 30% da população em idade ativa, tanto no país quanto para o exterior, essa força de trabalho terá caido para 16,4 milhões de pessoas em 2023, o último ano para o qual a OCDE fornece números.
Portanto, o desafio é facilitar o retorno de cerca de 6,9 milhões desses deslocados do exterior, com melhorias no mercado de trabalho, mas também nas condições de habitação e nos serviços de educação.