Temos a mania que somos uns cagões. Julgamo-nos uns ases. Que estamos acima de muitos pares. Que controlamos tudo e todos. Porém, por vezes, o mundo insiste em mostrar-nos o quão insignificantes e aberrantes somos.
Primeiro foi o apagão! Na era da Inteligência Artificial, que tudo faz e tudo resolve. Que inclusive tudo distorce… O mundo parar por conta da falta de energia era algo impensável. Tão inusitado que, seres tão evoluídos como nós, corremos a abastecer os nossos refúgios. Foram pilhas. Rádios. Fogareiros. Atum em lata. Papel higiénico e garrafões de água. Só que desta feita nós já não éramos virgens. A Covid, a tal que nos ia mudar enquanto civilização, fez de facto o seu trabalho. Fomos muito mais rápidos. Já conhecíamos bem os lugares das prateleiras desses artigos básicos.
Pior foram os que ficaram presos nos elevadores. No metro. No trânsito sem semáforos. Ou mesmo os que dependiam da eletricidade para se manterem vivos! Talvez por isso tenha dificuldade em perceber os que dizem que “isso devia acontecer uma vez por mês”. Que “foi a forma que conversei com a minha mulher”. Ou “aleluia que me desliguei do trabalho”. É mesmo preciso haver um corte de energia para olharem à volta?!
É que, depois, vêm invariavelmente o “ah, se eu soubesse”. Ou até o “se fosse hoje”. E estes são apenas 2 exemplos de frases que, alugando espaço no nosso sótão, nos podem sair bem mais caro do que um duplex na monumental.
Será que algum dia os pais e demais familiares, os amigos, professores ou até conhecidos da Jociane conseguirão apagar essas suposições? Não sei. Não faço ideia. E creio que, a não serem os próprios, mais ninguém saberá.
Mas uma coisa eu sei. Mais do que aprender com estes tristes acontecimentos, nós queremos é encontrar culpados. Crucificar pais. Castigar colegas. Responsabilizar escolas… Quando, na verdade, quem falhou fomos todos nós! Não neste caso concreto. Eu nunca tinha visto a menina. Esqueço nomes, mas uma cara daquelas dificilmente esqueceria. Era linda. Mas podia ser feia. Era magra. Mas podia ser gorda. Fosse quem fosse. Fosse o que fosse. Não podia, aos 12, sentir-se tão cansada e decidir desistir sem que alguém a segurasse.
Enquanto isso, assobiamos para o lado. Distraímo-nos. Estamos, porventura, nas redes sociais! A vigiar os outros. A invejar a vida de quem finge ser feliz. A escondermo-nos atrás de perfis falsos para dizermos o que não temos coragem de dizer na cara. A fugir à verdade. A viver numa selva. No vale tudo…
Por sorte, os políticos, os que nos governam, dão o exemplo. Ou não! “PS pagou 40 mil euros por perfis falsos”. Mas quem diz o PS, deve poder dizer também o PSD ou o Chega ou seja lá o que for… “O objetivo era inundar as redes sociais com comentários favoráveis ao partido e contra a oposição”. E como é que isso funcionava? Segundo um dos antigos elementos da agência contratada, “começávamos por escolher um nome e data de nascimento aleatória, dentro de vários segmentos populacionais. Para as fotos do perfil recolhíamos imagens de stock ou de páginas de Instagram de pessoas da Sibéria, por exemplo”. Hum hum. “Depois as contas seriam alimentadas (leia-se movimentadas com conteúdos e interações) durante semanas até serem postas a uso, para parecerem reais. Quando ficavam operacionais, faziam e disseminavam centenas de comentários em defesa de Costa e contra a oposição”. Bonito serviço.
PS, e para desanuviar, estou feliz pelo meu amigo José Manuel Rodrigues. Ao contrário do que possa parecer, eu só estou feliz se os meus amigos também o estiverem. Então não é que o novo secretário da economia está a fazer a mala?! Calma. Não vai (ainda) mudar de cargo. Vai apenas a Milão. Fazer? Vocês são mesmo uns vida-alheias… O homem vai só lá “levar” a Madeira, pela primeira vez, a uma prestigiada feira internacional. A TuttoFood. Digam agora que ele não é foodie e goodie. Digam!
Pedro Nunes escreve ao domingo, todas as semanas.