Quando a tragédia acontece há sempre uma questão predominante: Quem é que teve culpa? E quase instantaneamente são descobertos um ou mais culpados. Pelo que fizeram ou porque não fizeram ou deixaram de fazer, dependendo da circunstância e de quem aponta o dedo.
De facto, prolifera nas redes sociais uma estirpe de investigadores. Tão astuta que dispensa o trabalho investigativo. Basta ouvir algo aqui, outra coisa acolá para ativar o cérebro e unir os pontos, montar o enredo e chegar facilmente a uma conclusão.
Às vezes certa, outras não. Mas isso parece pouco importar, pois rapidamente se instala a ideia generalizada de que o que foi dito por uns e transmitido por outros corresponde à verdade. Tudo despachado em tempo recorde, fica a sentença dada sem grandes desarranjos ou desconfortos. Pelo menos para quem julga.
Perdemos, de facto, demasiado tempo nos labirintos da culpa alheia. Mas, valha a verdade, pelo menos na justiça popular a culpa não morre solteira, dê por onde der. E para além de ser despachada, não queima em lume brando embora possa abrasar inocentes com regularidade.
A morte de uma menina de 12 anos atingiu com violência o âmago de todo um arquipélago. E teve impacto lá fora. Como tinha de ser, aliás, face à dimensão da tragédia, apesar da descontrolada profusão de teses que só deverão acentuar a dor de familiares e amigos.
O que aconteceu não devia ter acontecido. Estamos todos de acordo. Como devíamos estar também convictos de que o bullying escolar – embora possa não ter sido o móbil neste caso – existe desde sempre, agravado atualmente por uma era digital, em que a maldade também se dissemina com maior facilidade.
O problema do bullying não está limitado a uma escola ou a um acontecimento. Não é pequeno e pontual. É regular e está enraizado na sociedade. Basta conversar com os jovens para aferir sobre isso mesmo. Um dos problemas, inclusive, é a falta de diálogo num mundo acelerado que deixa pouco ou nenhum espaço para criar hábitos familiares. Por exemplo, a rotina do jantar em família sem telemóveis à mesa é hoje, quase, uma utopia. Um desafio difícil de concretizar sem chatices de maior.
Não há, todavia, fórmulas infalíveis. Muitas vezes, é mesmo preciso que a sorte nos acompanhe para que os nossos descendentes não se percam do caminho da felicidade, que não raras vezes é bem distinto daquele que os seus progenitores idealizaram para si.
Mais do que notas académicas, conquistas efémeras ou ensinamentos, mais do que a arrumação do quarto ou as conversas de circunstância, importa perceber se os nossos jovens estão felizes. Que todos os que vivem no mesmo espaço se sentem seguros e tranquilos. E se a resposta for negativa, dar-lhes o obrigatório amparo. Ou, pelo menos, nunca deixar de tentar.