Do nada, como que por um passe de mágica, as luzes apagaram e, com elas, tudo aquilo que faz o mundo acontecer.
Estava em Lisboa prestes a começar uma reunião num hotel bem conhecido na cidade. Eramos 3 pessoas e tínhamos acabado de nos sentar no lobby com os nossos cadernos, canetas e, claro, telemóveis. Antes de tratarmos de trabalho reparei e comentei que a música estaria, na minha opinião, meio desenquadrada da hora do dia. Na verdade, posso dizer que me estava a incomodar.
Depois de servidas três águas com gás eis que a música para! Naquele momento senti alívio e pensei até que era uma atitude sensata mudar o estilo musical. Só uns segundos depois surgiu a constatação de que o hotel estava sem luz. Tendo em conta a dimensão, não iria demorar a voltar, no limite recorrendo a geradores.
É neste ponto que estamos quando recebo uma mensagem via whatsapp, a dizer: “Há um apagão!”
A esta seguiram-se muitas outras mensagens de diferentes interlocutores: “Madrid também está”; “Polónia tem luz”; “França afetada”; “Itália”; entre tantas outras como “Tenho a garantia de que vai demorar a repor!”.
É curioso como a partir daqui tudo se precipita em menos de nada para uma incapacitação total e absoluta. O primeiro impacto no meu caso foi sair da Avenida da Liberdade, onde estava, já que semáforos era coisa que não havia, segue-se a incapacidade de comunicar com algumas pessoas porque a rede móvel começou a ficar comprometida, a precipitação às caixas multibanco e bombas de gasolina a acontecer, os supermercados, as infindáveis filas nas paragens de autocarro e uma correria generalizada de onde o aeroporto não escapou.
As já conhecidas e habituais “fake news” começaram a sair, aproveitando algumas redes desimpedidas para disseminar todo o tipo de teoria de base que justificasse tal acontecimento, mas ficámos, literalmente, às escuras sobre tudo e mais alguma coisa.
Foi assim na passada 2ª feira em Portugal Continental e Espanha: Apagou-se!
Por casa ficámos ligados ao mundo da única forma possível, um rádio a pilhas trazido pela minha mãe. As horas seguintes foram de emissão ininterrupta da Antena 1 que, só por isso, já merece que se escreva sobre esse serviço público com louvor e distinção.
Seriam umas dez da noite, talvez um pouco antes, fez-se luz. Com a luz chegaram as mais de 200 mensagens que tinham ficado pendentes, as televisões a mostrar o caos pelo país durante o dia, e comentários, muitos comentários aos quase se somaram críticas de todo o tipo e para todos os gostos.
De entre essas críticas e indignações chamou-me a atenção uma reportagem no aeroporto de Lisboa onde, inevitavelmente, milhares de pessoas ficaram reféns da falta de eletricidade. No caso em concreto, eram passageiros na busca da sua bagagem, que teria ficado retida no dia anterior por inexistência de meios para as fazer chegar aos seus destinatários. A indignação era imensa. Exigiam-se responsabilidades a tudo e todos, reclamava-se o facto de as companhias aéreas não terem enviado mensagens a tempo e horas, como se tal fosse possível gerir ou prever, entre tantos outros comentários que visavam, no fundo, reclamar uma coisa: a falta de comunicação.
É compreensível que, numa situação destas, o stress tome conta de muitas atitudes e até comentários e é também compreensível que a rapidez com que se decide o quê e como comunicar, em casos como este, seja de uma dificuldade extrema.
Que fique claro que a presente opinião não pretende criticar. Pretende, sim, sublinhar a importância vital da comunicação, sobretudo quando ela parece impossível. Em tempos de crise, comunicar de forma transparente e ágil pode não resolver tudo, mas ajuda a manter alguma ordem no meio do caos.
Quando tudo se apaga, será que o que nos resta é a “voz” certa para trazer um pouco de luz?