Apagão: Em dia de sol e sem luz nas escolas e escritórios “vai tudo” para a praia

Num dia em que o sol está quente e falta a luz de Norte a Sul, as escolas e escritórios ficaram vazios, mas as praias encheram-se de gente despreocupada com a falta de energia, “pelo menos enquanto houver sol”.

A falta de energia, que afeta Portugal e Espanha desde o final da manhã de hoje, obrigou ao encerramento de várias escolas e fez com que muitos portugueses “ganhassem o dia” de folga.

“Português que é português vê sempre um lado positivo. Não se pode trabalhar? Está sol? Vamos para a praia. Quando já não houver sol, pensamos no que fazer”, explicou à Lusa Luciano Almeida, enquanto enterrava o guarda-sol na areia, numa praia da Póvoa de Varzim.

O São Pedro parece estar a colaborar: “Veja lá que nem vento há, aqui, numa terra em que em agosto não se aguenta na praia. Hoje está que é uma maravilha”, salientou a mulher de Luciano, ambos na casa dos 50 anos.

Mais ao lado, as multas estabelecidas para o barulho de rádios nas praias parecem não assustar, a música está alta e as conversas correm “soltinhas como as ondas” entre um grupo de jovens, entre os 15 e os 18 anos.

“Mandaram-nos embora da escola. Vamos para casa fazer o quê? Não podemos jogar, não podemos ver séries, viemos para a praia”, disse António, estendido ao sol.

Ao lado, a “quase namorada”, pelo que explicou o rapaz, queixa-se: “Agora tem muita piada, mas quero ver como vamos fazer para comer logo e tomar banho”.

Quem vive em prédios tem um problema adicional, sem energia elétrica as bombas que levam a água aos andares mais altos não funcionam: “Vai ser tudo a cheirar a queijo”.

Os cafés e pequenas mercearias junto à praia já estão fechados, venderam tudo o que tinham, desde bolos, pão, sumos, queijo e ovos: “Andou tudo a pedir ovos. Ou gostam muito de gemada ou pensaram que estavam na pandemia e que iam fazer bolos”, disse, entre risos e algum “nervosinho”, à Lusa a D. Alzira, dona duma mercearia.

“Olhe, pelo meio-dia veio tudo comprar água, atum, feijão em lata, fruta. Foi tudo. E não sei se vou ver o dinheiro que me ficaram a dever. O multibanco não funciona, não há caixas para levantar notas e eu não ia deixar as pessoas à fome e sede. Olhe, valha-me Deus e que me venham pagar”, disse, erguendo as mãos ao céu.

São muitos os que passeiam à beira-mar, “não há muito que se possa fazer em casa”.

“Enquanto o sol brilhar, estamos para aqui entretidos. Isto tem tudo muita piada mas se a luz não voltar lá se vai tudo o que está no frigorífico para o lixo”, lembrou José, 92 anos.

A mulher, Maria da Paz, “senhora dos seus 83 anos”, salientou José, alinhou no pensamento: “Há muita gente que já recebeu e foi às compras do mês. Como é que vai ser? Já não vão ter dinheiro para outra compra grande”.

Pela marginal da praia há um cheiro não muito normal nesta altura do ano. Olhando à volta, percebe-se: há churrascos.

“Quando percebemos que não íamos ter luz para cozinhar, olhe, fizemo-nos à vida e fomos logo comprar carvão. O franguinho está quase pronto, temos ali uns bifes para o jantar e para amanhã também se arranja”, disse Aurélio, da varanda, num primeiro andar, enquanto exibia o frango, já bem assadinho e a fazer inveja a quem pelas 16:00 ainda não almoçou.

A REN – Redes Energéticas Nacionais confirmou hoje um corte generalizado no abastecimento elétrico em toda a Península Ibérica e parte do território francês e avançou que estão a ser ativados os planos de restabelecimento por etapas do fornecimento de energia.

O apagão registou-se às 11:30 de Lisboa.

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