A Arquidiocese de Buenos Aires vai celebrar uma missa de despedida para Francisco e uma caravana popular até a maior favela de Buenos Aires, passando pelos lugares emblemáticos da obra de Jorge Bergoglio antes de se tornar Papa.
“Quero convidá-los a participar na missa pelo eterno descanso do nosso querido Papa Francisco no próximo sábado, 26 de abril, às 10:00 (14:00 em Lisboa), na Catedral de Buenos Aires. Será a missa oficial com a qual nos despediremos todos juntos do Santo Padre”, afirmou o arcebispo de Buenos Aires, Jorge García Cuerva, numa carta enviada às arquidioceses.
Na missiva, o arcebispo acrescentou que, será depois realizada “uma caravana ao redor da Praça de Maio para expressar, simbolicamente, no coração da cidade, o nosso agradecimento pela sua vida, pelo seu testemunho e pelo seu magistério”.
A despedida de Francisco na sua terra natal começa exatamente depois de terminar o funeral no Vaticano.
A Catedral de Buenos Aires, em frente à histórica Praça de Maio, foi o último posto do cardeal Jorge Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, antes de se tornar Papa.
Várias caravanas dos pontos mais populosos da cidade como a favela 31, a favela 11-14 e a favela 21-24, a maior da cidade, vão rumar à Catedral, onde se juntam numa caravana única que irá prestar homenagem a Francisco.
A caravana popular simboliza a característica de Francisco de “uma Igreja pobre para os pobres”.
Após a missa, serão montadas longas mesas corridas numa espécie de “Santa Ceia popular” para alimentar os milhares de fiéis em comunhão.
Depois do almoço, a caravana começa a percorrer “O Caminho de Francisco”, um roteiro que vai passar por diversos pontos por onde Jorge Bergoglio andou e fez história.
A primeira paragem será na Casa de Mamá Antula, como ficou popularmente conhecida a religiosa María Antonia de San José (1730-1799), canonizada pelo Papa Francisco em 11 de fevereiro de 2024, tornando-se a primeira santa nascida na Argentina.
A segunda será a Praça Constitución, onde o cardeal Jorge Bergoglio celebrava missas a favor dos excluídos e dos marginalizados.
A caravana popular vai ainda passar pelos hospitais Borda (priquiátrico), Tobar (pediátrico) e Rawson (doenças sexuais), todos locais a que Francisco deu atenção quando era arcebispo da cidade.
A Penitenciária Muñíz e o abrigo popular Hogar de Cristo (Lar de Cristo) também vão ser visitados antes de a caravana chegar à paróquia Virgem de Caacupé, na favela 21-24, a maior da cidade de Buenos Aires, onde termina o percurso.
Nesse local, onde está previsto chegarem pelas 17:00 (21:00 em Lisboa), haverá um encontro das comunidades de todas as favelas de Buenos Aires, agrupadas num movimento de sacerdotes conhecido como “Padres das Favelas” (‘Curas Villeros’).
“Uma das primeiras expressões de Francisco, quando foi eleito Papa, foi dizer que gostaria de ver uma Igreja pobre para os pobres. Quem viu isso de longe pode acreditar que ele inventou essa igreja. Não é assim. O Papa vem dessa igreja pobre para os pobres que já existia na Argentina, na pastoral das favelas, nas comunidades de base do Brasil e em outros lugares da América Latina. Ele formou-se nessa igreja e soube como a representar de forma maravilhosa, fazendo transcender essa visão que hoje ganhou dimensão mundial. Esse é o seu maior legado”, explicou à Lusa o padre Lorenzo de Vedia, de 58 anos, conhecido como padre Toto, amigo do Papa e representante do chamado “Padres das Favelas”.
O “Padres das Favelas” (‘Curas Villeros’) é um movimento de sacerdotes da Igreja Católica Argentina, que surgiu em 1967 com padres que decidiram viver em bairros precários e humildes como um compromisso de vida pelos pobres, exercendo uma ação pastoral em sintonia com a situação dos fiéis.
Em 1997, o cardeal Jorge Mario Bergoglio aproximou-se desse segmento religioso, fortalecendo-o e tornando-se o seu maior aliado.
Nascia ali a “Igreja pobre para os pobres”, como citaria Francisco em março de 2013 e onde vai, simbolicamente, terminar o seu papado na Argentina no sábado.