O nosso 25 de abril

Era uma vez…

Um país pobre, triste e cinzento com reis tiranos que impediam que as palavras “democracia” e “liberdade” fossem pronunciadas.

Era uma vez uma guerra inútil que assombrava o país.

Era uma vez uma Polícia que perseguia, censurava e prendia aqueles que pensavam de uma forma diferente.

Era uma vez um país de emigrantes que partiam para outras terras à procura de melhores condições de vida, de modo a escaparem à pobreza, à falta de trabalho, à censura, à perseguição e à guerra.

Era uma vez uma organização juvenil da ditadura de Salazar, a Mocidade Portuguesa, onde controlavam aquilo que os jovens aprendiam, ensinando a elas a serem boas mães e cuidarem da casa, e a eles a prepararem-se para a vida militar.

Era uma vez um dia que abalou a História de Portugal tornando-se num marco da nossa história: o 25 de Abril de 1974!

Nos dias de hoje, os jovens não têm noção de como era a nossa sociedade há cinco décadas atrás. Nasceram e cresceram em liberdade que, para eles, sempre existiu. Vivem completamente alienados àquilo que foi o nosso passado e a importância do 25 de Abril. Pouco ou nada sabem sobre este dia.

Sim, sabem que houve uma revolução pela liberdade, sendo o cravo o símbolo deste marco. Nada mais. Não sabem explicar o porquê desta revolução. Desconhecem o atraso que se vivia na altura, da censura, da ditadura, da guerra, da vida nos campos, das cidades pequenas, das mulheres em casa, do analfabetismo, da pobreza, da falta de liberdade, da PIDE… Desconhecem uma realidade difícil que existiu no nosso país e que não foi há tanto tempo assim.

Mas este dia deve sempre ser lembrado. Um dia bonito em que o país acordou com a valentia dos militares portugueses, com tanques e carros blindados, a fazerem xeque-mate ao regime fascista e a lutarem por uma causa: a conquista da liberdade. Ao ver esta luta, o povo juntou-se de mãos dadas aos militares, abraçou a causa, sendo o cravo vermelho o símbolo deste dia!

Mudámos muito desde então. Os portugueses são muito diferentes daquilo que eram há 51 anos atrás. Vivemos de um outro modo, mas pertencemos ao mesmo país que lutou por nós, um país onde os nossos avós e bisavós cresceram num regime fascista e ditador. Somos o fruto da história e da memória que cria um património comum.

Este ano comemoramos mais um ano do nosso 25 de Abril. Os 51 anos da Revolução de Abril são comemorados por todo o país, assinalando-se assim o derrube do regime fascista e as conquistas históricas que trouxeram profundas transformações à realidade do nosso país e à vida do povo português. Todos os anos, destacam-se grandes desfiles populares no Funchal e em Lisboa, com centenas de pessoas de todas as idades, demonstrando que as realidades, valores e ideais de Abril permanecem atuais na luta presente. Mais do que viver o momento, é confirmar aquela característica ímpar da Revolução de Abril, onde o povo sai à rua, se identifica e se reafirma com o movimento dos Capitães num ato de liberdade, nesse processo de mudança social. Comemorar Abril é impossível sem a comemoração do povo.

No outro dia, questionaram-me o porquê de escrever sempre sobre o 25 de Abril nesta época. A minha resposta foi simples: para que nunca nos esquecemos de Abril e dos seus ideais. Para que todos guardem sempre na memória o caminho para a conquista da Liberdade e que nunca deixem morrer este dia. Regar os valores de Abril: hoje e sempre!

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