Na homilia da Missa deste Domingo de Páscoa e da Ressurreição de Cristo, o Bispo do Funchal falou diretamente para as pessoas que se sentem desesperadas e desanimadas, pedindo que estas “encontrem a esperança”.
“O desespero e o desânimo tinham tomado conta das suas vidas, das suas pessoas. Tudo o que fora entusiasmo, alegria, sonho, projeto de vida (mesmo uma certa perceção da presença de Deus) nascidos à volta de Jesus de Nazaré, tudo se vira transformado em desilusão. Afinal, a morte de cruz — aquela morte reservada aos piores da sociedade — tinha sido mais forte. A esperança morrera para os discípulos naquela Sexta-feira, diante das torturas e do horrível madeiro da cruz… acrescentada pelo medo de que, também a eles, lhes acontecesse coisa semelhante”, começou por expressar D. Nuno Bás.
Recordou José de Arimateia e Natanael, “discípulos até ali em segredo por serem membros do Sinédrio, tinham ganho coragem e pediram a Pilatos autorização para descer da cruz o corpo morto do Nazareno. Por sorte, havia ali ao lado um sepulcro novo: um condenado à morte não podia contaminar os outros sepulcros. Colocaram lá o amigo crucificado. E uma pesada pedra foi rolada sobre o sepulcro. Nem tiveram tempo para completar os ritos. Contudo, o mais importante era que o assunto estava encerrado. Restava regressar a casa e retomar as atividades interrompidas durante aqueles três anos. Para contar aos vindouros, ficariam as ideias, as memórias, a lembrança dos gestos, da ilusão… E, como conclusão, falariam da esperança enganada, do desespero daqueles dias de Jerusalém”.
Depois de recordar os acontecimentos após a morte de Jesus Cristo até ao domingo da sua Ressurreição, o Prelado afirmou que “a morte de Jesus não fora o fim, mas a passagem para um novo princípio, uma nova criação. Jesus não tinha sido vencido pela morte. Ao contrário: vencera a morte”, como concluiu o discípulo João, que conseguiu assim, “contemplar um outro mundo, um mundo novo, a vida de Deus… muito mais e muito além do paraíso!”.
“Agora, João percebia o que significava ser o Messias: Jesus era, de verdade, o Messias, o Cristo. Mais: era o Senhor, a Palavra de Deus feita carne, que tinha vindo aos seus e que os seus não receberam. Deus feito Homem, para dar a todos a possibilidade de passar, de fazer Páscoa, de viver uma vida não já determinada e limitada pela morte, mas com a certeza, a âncora esperança da vida eterna, no mar da incerteza!”, interpretava o Bispo, perante uma Sé repleta de fiéis.
“João ainda não sabia o que iria suceder nos dias seguintes. Ainda não sabia que o Senhor iria confirmar, dar carne a todas estas verdades em que ele agora acreditava. Ainda não sabia que o Ressuscitado se iria fazer ver a Maria Madalena e, depois, aos Onze. Ainda não sabia que o Senhor se haveria de fazer encontrado por todos na margem do Lago, e que haveria de partilhar com eles mais uma refeição. Sobretudo, João ainda nem supunha como a sua vida seria mudada, transformada para sempre”.
D. Nuno Brás recordou que João “viu e acreditou. Naquele momento, a sua vida deixou de ser simplesmente conduzida por quanto já tinha vivido, pelas conquistas que tinha realizado no passado. E era bem mais que o momento presente: do futuro, surgia uma certeza única, uma realidade maior onde firmar a sua existência, os seus dias, as suas escolhas, a sua liberdade. Podia caminhar com segurança e com determinação ao seu encontro”.
“Jesus era o Senhor, o Messias — “o Homem”, tinha dito Pilatos num dos dias anteriores, sem consciência do que dizia. E era, também, o Deus, o único e verdadeiro Deus, que salvara o povo do Egipto, que fizera surgir David e os profetas, que tinha realizado o regresso de Babilónia. O Deus, com quem ele tinha partilhado a vida naqueles últimos anos, sem se ter dado conta disso.
E este Senhor tinha-o agora envolvido e a toda a sua vida, no infinito horizonte de Deus. João viu e acreditou. A esperança tinha tomado conta da sua existência”.