Trabalhadores do INEM recusam ser “bode expiatório” de um SNS “com falhas”

A Comissão de Trabalhadores do INEM rejeitou hoje que os seus profissionais sejam o “bode expiatório” de um Serviço Nacional de Saúde (SNS) “com falhas”, sobretudo no encaminhamento de utentes de risco.

Atribuindo o caso da grávida de 34 semanas, residente na Moita, que permaneceu numa ambulância “quase três horas” antes de ser encaminhada para a Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, à “ineficiência” dos Serviços de Urgência, os trabalhadores do INEM exigem que o seu profissionalismo não seja posto em causa.

“Os profissionais do INEM, sejam eles médicos, enfermeiros ou técnicos, não podem continuar a ser o bode expiatório de um SNS com falhas no acesso de utentes (de risco) ao sistema, muito menos ser colocado em causa o seu profissionalismo e competências para o exercício das suas funções”, lê-se no comunicado enviado à agência Lusa.

A Comissão de Trabalhadores do INEM diz que foi “sem surpresa” que assistiu a notícias que “de alguma forma responsabilizam o INEM e os seus profissionais pelo atraso no encaminhamento de utentes, neste caso em específico de uma grávida de risco”.

“Sem surpresa, reforçamos, porque já é do conhecimento público, do INEM e inclusive da senhora ministra da Saúde [Ana Paula Martins], as dificuldades existentes na referenciação de doentes com os atuais constrangimentos nas urgências”, refere.

Para a Comissão de Trabalhadores, “este foi mais um caso em que a falta de vagas nas ULS [Unidades Locais de Saúde] atira, erradamente, a responsabilidade para o INEM”.

“E no caso em apreço, inclusive para os profissionais que desempenham funções nos CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes], tais como médicos, enfermeiros e técnicos de Emergência Pré-hospitalar”, continua.

Sublinhando que, “a cada chamada atendida”, todos “garantem que o socorro seja prestado com rapidez, precisão e humanidade”, a comissão recorda “a pressão crescente devido às dificuldades nos Serviços de Urgência” (SU).

“Diariamente, trabalham incansavelmente para coordenar recursos, orientar procedimentos e salvar vidas, esforço sem o reconhecimento devido. Não podem, nem o INEM nem os seus profissionais, continuar a ser responsabilizados pela ineficiência dos SU (neste caso em aceitar ou não utentes referenciados)”, conclui o comunicado.

Uma grávida de 34 semanas, residente na Moita, teve de permanecer numa ambulância “quase três horas” antes de ser reencaminhada para a Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, noticiou na quinta-feira a TVI.

No mesmo dia, a Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM) manifestou “sérias preocupações” sobre a articulação entre os hospitais do SNS e o INEM no acompanhamento dos casos urgentes de grávidas.

“A grávida permaneceu na ambulância, enquanto o CODU tentava perceber para onde poderia transportar esta senhora parturiente e os bombeiros ficaram à espera de uma decisão até às 14:20”, adiantou a associação.

Durante este tempo de espera, “foi inclusive considerada a hipótese de encaminhamento para uma unidade hospitalar em Coimbra”, referiu a ANTEM, ao salientar que neste caso fica “bem patente que não existe uma articulação eficaz entre os CODU e os serviços de urgência” dos hospitais.

No mesmo dia, o INEM, que não confirmou o tempo de espera de cerca de três horas, adiantou à agência Lusa que “o pedido foi recebido no CODU através do SNS24”, tendo sido acionados os Bombeiros Voluntários de Alcochete.

Já a Unidade Local de Saúde do Arco Ribeirinho (ULSAR), num comunicado enviado à agência Lusa, adiantou que a grávida de gémeos foi observada na quarta-feira numa consulta de alto risco obstétrico no Hospital do Barreiro e recusou ser transferida para um hospital com cuidados intensivos neonatais.

“A grávida recusou a transferência, alegando a necessidade de resolver problemas familiares no domicílio”, tendo sido informada dos riscos e assinado a “alta à sua responsabilidade e contra parecer médico”, adiantou a ULSAR.

Perante isso, e de acordo com a ULS, os profissionais de saúde aconselharam a grávida a contactar a linha SNS 24 logo que possível, “referindo o risco de grande prematuridade e a necessidade de ser encaminhada para uma unidade hospitalar com cuidados neonatais diferenciados”.

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