Um já passou…faltam dois

A maratona de eleições já teve a sua primeira passagem e foi, para alguns, sentida como um terramoto político, um verdadeiro epicentro que provocou um abalo avassalador num ano em que se esperam mais duas eleições.

Ao contrário do que muitas vezes se projeta, as pessoas responderam à chamada para o ato eleitoral antecipado com uma presença muito considerável, com um nível de participação semelhante ao de 2019, um ano em que, tal como neste, houve três atos eleitorais, embora nenhum tenha sido de forma antecipada.

Se estivesse em vigor a nova lei eleitoral, que permitiria de forma generalizada o voto antecipado, os números de participação teriam sido superiores. Mas, independentemente disso, o facto de terem votado quase 143 mil pessoas, mais do que as cerca de 136 mil que votaram em 2024, significa que houve uma forte mobilização do eleitorado, e isso é de salientar.

Portanto, creio que houve uma clara vontade de participar nas eleições e de manifestar uma solução para a situação política que a Madeira enfrentava, e que tem provocado instabilidade desde 2023.

Não deixa de ser interessante observar que, tal como em 2019, a receita para a governação volta a passar pelo CDS no governo, somando, assim, os mesmos 24 deputados. E que, do lado da oposição, há ainda um longo caminho a percorrer, tendo em consideração que, de momento, os partidos que poderiam ser parte de uma solução de governo, o PS e o JPP, estão agora reduzidos a 19 deputados (em 2019 somavam 22). Para este facto contribui o aparecimento do CH que, sendo um partido de extrema-direita, não constitui uma alternativa fiável nem à direita nem, muito menos, à esquerda do espectro político.

Uma coisa é certa: a não ser que haja uma hecatombe política na Região, não haverá eleições regionais antecipadas. E isso, apesar de tudo, traz alguma tranquilidade à população. Mas também traz responsabilidade, essencialmente para quem governa, que não se pode furtar a assumir os resultados da sua governação e nesse campo, a Madeira tem muitos aspetos a melhorar.

Com tudo o que aconteceu, esperemos que haja uma aprendizagem e que se evolua. Acredito que poderíamos ter conseguido atingir objetivos muito concretos na legislatura anterior, nomeadamente no que concerne à aplicação do diferencial fiscal. Se quiséssemos ter discutido em sede de orçamento e negociado a sua viabilização, poderíamos ter alcançado esse objetivo. Perdemos uma oportunidade única para promover um debate concreto na Assembleia e conseguir ganhos significativos para as pessoas, mas infelizmente, agora voltamos a depender única e exclusivamente da vontade de PSD/CDS. Estávamos politicamente numa situação precária, sim, todos os partidos estavam, mas era esse o momento de aproveitar para fazer as alterações legislativas que tanto ambicionávamos.

Agora, resta desejar que os próximos quatro anos permitam construir alternativas credíveis, pois, por muito que se queira ver de outra forma, e apesar de recém-legitimados, uma democracia não é verdadeiramente saudável sem alternância no poder, como acontece cá na Madeira.

Caminhamos agora para o segundo ato: as eleições legislativas nacionais. Eleições estas que também surgem num contexto antecipado, por suspeitas que recaem sobre o primeiro-ministro. Podemos dizer que é comparável ao que aconteceu na Região, e que levará o povo português a manifestar-se. Vai ser interessante observar e comparar com o resultado regional. Uma coisa é certa: não deixa de ser uma oportunidade para cada um de nós manifestar a sua vontade e, assim, reforçar a importância da democracia nas grandes decisões em Portugal.

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *