Num contexto em que a informação em saúde circula amplamente e está acessível a um clique de distância, seria expectável que os níveis de literacia em saúde fossem elevados, sobretudo entre os jovens universitários, utilizadores frequentes das tecnologias digitais. Contudo, os dados revelam uma realidade distinta, marcada por lacunas significativas no acesso, compreensão e utilização adequada dessa informação.
A literacia em saúde refere-se à capacidade de aceder, compreender, avaliar e aplicar informação em saúde para tomar decisões informadas. Está diretamente relacionada com a adesão a tratamentos, o uso apropriado dos serviços de saúde e a adoção de comportamentos saudáveis. No entanto, a facilidade de acesso à informação expõe igualmente os jovens à desinformação, comprometendo a sua capacidade de autogestão da saúde.
De acordo com o estudo “Literacia em Saúde no Ensino Superior: Desafios em Portugal” (2021), citado pelo jornal *Público*, cerca de 40% dos estudantes universitários portugueses apresentam baixos níveis de literacia em saúde. Mais preocupante ainda, os que completaram o ensino secundário nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, bem como na região interior centro do país, registam prevalências ainda mais elevadas de literacia insuficiente. Estes dados devem ser entendidos como alertas urgentes para uma intervenção estruturada e eficaz.
As causas desta disparidade são, previsivelmente, multifatoriais. Importa, por isso, compreender os fatores que explicam as diferenças regionais, não para atribuir responsabilidades, mas para identificar a raiz do problema, delinear respostas adequadas e definir estratégias sustentadas de intervenção.
Se existirem lacunas na educação, impõe-se uma reformulação da educação para a saúde, adotando abordagens mais práticas, interativas e centradas nos alunos. Se, por outro lado, o problema residir na promoção da saúde, é essencial que as instituições desempenhem um papel mais ativo na difusão de informação fiável e na criação de ambientes propícios ao desenvolvimento da literacia em saúde.
É crucial unir esforços e estabelecer parcerias entre instituições de ensino, serviços de saúde e autarquias, promovendo programas de formação e intervenção comunitária. Paralelamente, deve investir-se em campanhas de comunicação em saúde concebidas por e para jovens, utilizando uma linguagem acessível e plataformas digitais que lhes sejam familiares, de modo a potenciar o seu impacto.
Os profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros, devem integrar ativamente este processo, dada a sua função central como educadores para a saúde. A sua proximidade à comunidade e experiência nos cuidados de saúde tornam-nos agentes privilegiados na promoção da literacia em saúde, contribuindo para o empoderamento da população e para decisões mais informadas.
A presença regular de enfermeiros nas instituições de ensino pode facilitar o acesso dos jovens a informação credível, combatendo a desinformação e incentivando hábitos saudáveis. Uma colaboração mais estreita entre enfermeiros, e educadores poderá traduzir-se em estratégias mais eficazes para elevar os níveis de literacia em saúde.
Embora as soluções sejam complexas e os efeitos nem sempre imediatos, é inegável que investir na literacia em saúde dos jovens constitui um investimento no futuro coletivo. Sem informação clara e acessível, as escolhas individuais e sociais tornam-se menos conscientes, com repercussões na saúde dos próprios jovens e na sustentabilidade do sistema de saúde.