A habitual celebração do 17 de abril de 1969, data que assinala o início da Crise Académica, contra o regime do Estado Novo, não aconteceu hoje em Coimbra, alegadamente devido às condições atmosféricas.
Este facto é assinalado pelo Diário de Coimbra que, tal como outros órgãos de comunicação social, esteve no local onde todos os anos acontece a comemoração, no Largo D. Dinis, e se deparou com a inexistência de qualquer ato público.
“Pelo menos durante meia hora, os vários jornalistas presentes no local tentaram contactar com Carlos Magalhães, presidente da DG/AAC, na tentativa de perceber se a iniciativa tinha sido cancelada ou adiada. Mais tarde, através da assessoria, seria comunicado, não de forma oficial, que a inauguração tinha sido cancelada devido às condições atmosféricas”, escreve o DC na edição online.
A crise académica de 1969 começou quando não foi permitido ao então presidente da Associação Académica de Coimbra, Alberto Martins, o uso da palavra durante a inauguração das instalações do Departamento de Matemática.
À contestação estudantil “respondeu o governo com a prisão e a mobilização para a guerra do ultramar”, conforme é recordado na RTP Ensina.
Nesse mesmo ano, a equipa da Académica (mais conhecida como a equipa dos estudantes), finalista da Taça de Portugal, levou os protestos até ao Estádio Nacional. Os jogadores da Briosa apresentaram-se de capas negras e nas bancadas viram-se cartazes de protesto. Américo Thomaz, o Presidente da República, que calou a voz dos estudantes na inauguração do edifício das ‘matemáticas’, não compareceu e o jogo não teve transmissão televisiva.
Pela audácia de um “peço a palavra” e por ter desencadeado a crise académica, Alberto Martins foi um dos estudantes presos. Formado em Direito, pela Universidade de Coimbra, veio a ser ministro da Reforma do Estado e da Administração Pública, no XIV Governo Constitucional (1999-2002), e ministro da Justiça, no XVIII Governo Constitucional (2009-2011).
O Diário de Coimbra lembra que, no ano passado, “a AAC inaugurou o mural de homenagem a Alberto Martins e à crise académica de 1969, numa cerimónia que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa”.