Cerca de uma centena de pessoas participaram hoje numa marcha entre a Cova da Moura e o Bairro do Zambujal, na Amadora, para “pedir justiça” para Odair Moniz, morto pela polícia, e por “todas as vítimas de violência policial”.
Ao som de bombos, os manifestantes desfilaram entre a Cova da Moura, onde foi morto Odair Moniz, e o Bairro do Zambujal, onde residia, e gritaram várias palavras de ordem, sendo as mais ouvidas: “justiça para Odair”, “polícia racista, tortura e assassina”, “sem justiça não há paz” e “a nossa luta é todo o dia contra o racismo e xenofobia”.
Morador no Bairro do Zambujal, Odair Moniz foi baleado mortalmente por um agente da Polícia de Segurança Pública em 21 de outubro de 2024, quando conduzia o seu carro, no bairro da Cova da Moura. A sua morte desencadeou a revolta, nalguns casos acompanhada por distúrbios, em vários bairros da periferia de Lisboa.
“Estamos a pedir justiça pelo Odair e por todos os Odair que infelizmente foram mortos por abuso policial. O que pedimos e ansiamos é que não haja abuso policial e que os bairros não sejam considerados como uma forma de opressão e repressão”, disse à Lusa Luísa Semedo, ativista do movimento Vida Justa.
“Não podemos ter os nossos filhos a ver o policiamento como ameaça, mas sim como uma segurança”, precisou.
Questionado sobre se alguma coisa mudou depois de outubro de 2024, uma vez que se realizaram reuniões entre o Governo e dirigentes associativos, Luísa Semedo sublinhou que estes encontros “foram um bocadinho mais para lavar a cara”.
“Da parte deles nunca mais contactaram as associações, não há uma proximidade, não há nem um compreender como podemos resolver isso da melhor maneira”, frisou.
A ativista sustentou que o Estado devia olhar para as minorias ou pessoas que moram nos bairros “não como criminosas, mas como mais vulneráveis no sentido de apoio e não reprimir”.
Em final de janeiro, o Ministério Público (MO) acusou do crime de homicídio, punível com pena de prisão de oito a dezasseis anos, o agente da PSP que baleou Odair Moniz no bairro da Cova da Moura, sendo a próxima fase deste processo o julgamento,
Questionada sobre a acusação, a ativista do movimento Vida Justa disse não ser a melhor pessoa para falar sobre ela.
Além do processo judicial, estão a decorrer processos de âmbito disciplinar na PSP e na Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), à qual a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, pediu “caráter de urgência”, mas ainda não há conclusões.
Segundo a acusação, Odair Moniz tentou fugir e resistir à detenção, mas não se verificou qualquer ameaça com recurso a arma branca, contrariando o comunicado oficial da PSP divulgado após o incidente, segundo o qual o homem teria “resistido à detenção” e tentado agredir os agentes “com recurso a arma branca”.
Por decisão do Tribunal da Amadora, o agente da PSP está suspenso das suas funções desde o fim de fevereiro.
A marcha de hoje, organizada pela Grande Marcha dos Bairros do movimento Vida Justa e que contou com a presença do deputado do BE Fabian Figueiredo, marcou o fim de uma série de iniciativas que começaram a 15 de março pela Área Metropolitana de Lisboa e que já passou por vários bairros dos concelhos de Almada (distrito de Setúbal), Amadora, Barreiro, Cascais, Loures, Seixal e Sintra (distrito de Lisboa) contra os despejos.