A geração sem casa

Quem casa, quer casa

Quem nasceu depois da Revolução de Abril, cedo se habituou a rótulos coletivos. Sobretudo os mais novos eram sistematicamente encaixados em conceitos que os agrupavam perante problemas ou modas comuns.

Quem não se lembra da geração rasca, dos anos 90, que assim foi batizada pela vacuidade dos seus protestos contra o sistema de ensino em Portugal? Ou da geração à rasca, que se seguiu pelas dificuldades que enfrentava? E depois vieram outras, como a geração X e de mais letras do abecedário.

Essa moda parece ter caído em desuso nos últimos anos. A covid baralhou todas as contas, as prioridades alteraram-se profundamente e algumas classes ficaram para trás.

A juventude ficou para trás.

Os mais novos perderam-se de nós ou os mais velhos perderam-se deles. Houve uma espécie de corte. E ficou um tempo sem nome. Em bom madeirense, ficou uma geração sem apelido. Mas os problemas não deixaram de existir, antes pelo contrário.

Os problemas dos mais novos estão com eles. Alguns são os mesmos de sempre. O emprego, a educação, o modelo social em que se vão acomodando. Mas outros, sendo problemas antigos, voltaram com mais intensidade.

A falta de habitação é um deles.

A geração mais qualificada de sempre, como os políticos muito gostam de dizer, arrisca-se a ser também a geração mais adiada de sempre. Adiam a criação de família própria, relações permanentes, filhos, compromissos.

Por que esperam os mais novos, perguntam os velhos quando notam que jovens à beira dos quarenta ainda não assentaram nem saíram de casa dos pais.

Casa. Esperam por casa. Muitos deles e não conseguem. Porque não há, porque o mercado está cheio de turistas e porque as casas estão a preços proibitivos.

E assim, sem que a sociedade se tivesse dado conta disso a tempo, nasceu um novo rótulo que encaixa na perfeição em milhares de jovens madeirenses que esperam que se cumpra a Constituição e que o direito à casa seja efetivamente cumprido.

Entretanto, está criada a geração sem casa.

Um tempo novo

O início de um ciclo político é normalmente um tempo de esperança. De compromissos e de palavras bonitas. De promessas de um futuro melhor. De um tempo prenhe de planos e metas e realizações.

Por esta altura, sente-se ainda mais a ideia de que o melhor está para vir. E isso cria uma espécie de ânimo coletivo. Não se vê, mas sente-se.

A instalação da Assembleia Legislativa confirma esse ambiente carregado de boas intenções e ainda melhores energias.

E o próximo passo acontece já terça-feira, com a posse do novo Governo Regional da Madeira. Será o epílogo de um largo intervalo na governação e o início do que se espera um período politicamente mais tranquilo.

Tão tranquilo que permite um de dois caminhos: a recuperação do tempo perdido para fazer avançar medidas e políticas que ficaram dois anos na gaveta ou o aproveitamento dessa calmaria para o relaxamento dos mais cansados.

E não se fala aqui dos titulares de cargos públicos. Esses estão naturalmente expostos, ficam sob os holofotes do escrutínio público e não têm grandes margens de folga.

O risco de voltar a emperrar a máquina não está nos protagonistas. Está, outra vez, nas segundas figuras. Nos pequenos poderes dos que não foram eleitos, mas também mandam. E como mandam!

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *