Recentemente li um livro, “O elogio da Sabujice” de Rui Teixeira da Mota, tão pertinente e intemporal, mas sobretudo oportuno nos tempos, social, laboral e político, em que vivemos, enxameado de tantos capachos em busca “de um lugar ao sol”, seja por que meios, ou manifestações, for – e há-os bem abjetos e até torpes. Mas também ridículos e, no livro, o autor bem os satiriza.
Caracteriza-os tão bem quando relembra, por exemplo, o colega da escola ou da faculdade que gira em torno do professor para demonstrar interesse pelo que diz e zelo, a ver se lhe cai melhores notas. São sempre tão solícitos e exímios na arte de “engraxar” (outra denominação para os lambe-botas e sabujos é precisamente “graxista”) os superiores, mas o mesmo não acontece quando um colega precisa de ajuda, não vá este superá-lo no esmero das suas “qualidades”… que o ciúme e inveja são também condição intrínseca destes untuosos sociais.
E ainda recorrendo ao livro, é interessante (e divertido!) a catalogação desta categoria, relembrando as “tretas” que não sabem nem fazem nada, mas disfarçam tão bem a incompetência; ou os “papagaios” que se pavoneiam em corredores de vaidades, por vezes sem qualquer substância; mas também os “servis” que dizem “sim” a tudo e até se acomodam a humilhações e destratos, não vão ter má nota, ou serem descartados, ou não conseguirem o cargo ou a nomeação tão desejada, cerceando as hierarquias para as agradar exagerada e… caricatamente.
Todos já nos cruzámos com este fenómeno do “lambotismo” na escola, no trabalho, na política ou noutros contextos. A própria História tem um grande inventário de sabujos e aduladores, quais malabaristas institucionais, a babar-se e a rastejar ante os seus dominadores, tecendo loas aos dirigentes, aos decisores, aos “senhores”… É que os “lambe-botas” são desprovidos de “coluna vertebral”, ou tendo-a, será bem retorcida e bem vergada.
Por norma, e agora recorro à sociologia e psicologia, também tendem a ser burocratas, pouco emancipados, pouco autodeterminados e… sobretudo nada LIVRES, deixando-se manietar facilmente e de forma recorrente, perante o poder, mesmo que por vezes seja um “falso poder” que, inclusive, os pode penalizar com multiplicidades de assédio por decisores medíocres – e lamentavelmente, nesta Era, “os medíocres tomaram o poder” e a tendência não parece que se inverta nos próximos tempos, com uma Democracia a acomodar-se e a deixar-se corroer na sua essência. E isto abre caminho para a multiplicação destes espécimes desprovidos de carácter e sem ética, que são os “lambe-botas”, que de forma mais ou menos recatada, circulam pelos corredores mais ou menos clandestinos do poder, da política, das instituições, das corporações… quais venais em troca de um “prato de lentilhas”, que pode ser dourado e levá-los mesmo a enriquecer, fundidos nos favores, no nepotismo, no partidarismo, no amiguismo e no caciquismo. E mesmo perante a abjeção e indignidade dos seus atos e comportamento, sentem-se “importantes” e incapazes de se reconhecer como sabujos, e néscios, que o são. E que comprometem o desenvolvimento social e político.