O Raul era um homem nos seus 40 anos, com uma rotina “normal de vida”. O Raul acordava cedo todos os dias, preparava os filhos, junto com a esposa, ia pô-los à escola e dirigia-se para o seu trabalho. A rotina era sempre a mesma no seu trabalho, um trabalho confortável. Recebia um ordenado um pouquinho acima do mínimo, mas estava efetivo. Trabalhava 8 horas e quando saía do trabalho, ao fim do dia, ia buscar os filhos e levava-os às atividades extracurriculares. Chegava a casa pelas 20h30, encomendava ou fazia um jantar rápido, adormecia os miúdos, tomava banho e ia dormir. Ao sábado, por vezes trabalhava e apenas tinha tempo de relaxar um pouquinho à tarde. No fim de semana, arrumava a casa e aí sim, conseguia tomar um café, almoçar fora com a família ou beber uns copos.
Mas o Raul estava cansado, frustrado e muito ansioso. O Raul vivia numa corrida contra o tempo, só comia duas rápidas refeições diárias e tinha excesso de peso. A sua relação com a esposa estava em modo de rotina e em modo de pais presentes. Não se sentia realizado e valorizado no seu trabalho. Não tinha tempo nem vontade para praticar exercício físico, algo que em tempos, adorava. No último check-up da medicina do trabalho, descobriu que tinha arritmia e os triglicéridos e marcadores de inflamação altos. O Raul já não dormia!
E o Raul não tinha tempo para marcar uma consulta médica. O Raul não tinha tempo nem vontade para namorar. O Raul não tinha tempo para pensar em si, como podia? A sua prioridade eram os seus filhos, amava-os e estava sempre presente para eles. A sua prioridade era o seu trabalho! Com as rendas sempre a subir, não podia dar ao luxo de se despedir! Tinha de criar e alimentar os seus filhos e ainda pensar em poupar para o caso de quererem entrar na universidade!
E agora? Que fim escrever para esta história? É desta?
É desta que O Raul tem um burnout e não chega aos 50? Ou é desta que o Raul, procura ajuda e começa a tentar fazer pequenas mudanças na sua vida?
Nos dias de hoje, somos todos um pouco Raul. Temos medo da mudança, da insegurança. Ou ficamos acomodados, não vendo soluções para os nossos problemas. Como? Parece impossível, em tão pouco tempo de um dia, organizarmos tudo o que é necessário para vivermos bem, certo? Mas o pior, é que nem pensamos em procurar ajuda. E quantas vezes dizemos para nós mesmos que…é desta! Dizemos vezes sem conta e não fazemos NADA! “É desta!”, torna-se uma expressão tão banal e tão superficial. E não pode ser!
É desta? É desta que tentamos fazer uma mudança? É desta a sério?
O que queremos para a nossa vida? Que objetivos queremos atingir? Vamos começar a definir prioridades? Vamos cuidar da nossa saúde? Vamos dar mais atenção aos nossos companheiros e cônjuges? Vamos procurar um hobby que nos preencha? Vamos investigar e deixar a porta aberta para novas oportunidades profissionais? Vamos tentar incluir o exercício na nossa vida? Vamos nos alimentar melhor? Vamos procurar ajuda se não conseguimos mudar sozinhos? Vamos procurar ajuda? VAMOS PROCURAR AJUDA?
Na realidade, a maioria das pessoas está no barco da insatisfação! É desta? É desta que de verdade que tentamos fazer a mudança que precisamos? É desta que procuramos ajuda? É DESTA?
Carina Teixeira escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.