Permitam que a minha oração (e eu rezo quando escrevo) reúna as dores de todos e fale da urgência de ser feliz e de acreditar que as estrelas se vão aproximar (outra vez) das nossas mãos estendidas.
Permitam-me o espanto, apesar de tantos tudos que nos chegam em cada dia. Permitam-me falar de canções de pássaros e de uma primavera que quer tomar o seu lugar, num tempo em que o inverno se demorou um bocadinho mais nos lugares do mundo. Deixem-me levantar os olhos para o céu e ver nele, apesar das nuvens, um rasto de estrelas que me diz que sim, que nada está perdido, que ainda há luzes escondidas atrás das noites, que ainda vamos a tempo de reencontrar a paz.
Somos peregrinos da Esperança. Caminhamos em direção a um Lugar Maior, um lugar que rompe o tempo e o espaço, um Lugar que a Páscoa nos revela. E fazemo-lo uns com os outros, cuidando uns dos outros, quaresmando uns com os outros, com os olhos postos no infinito.
Entretanto, porque o caminho nem sempre é fácil, vamos contemplando o que nos rodeia. O peregrino vai com vagar. E contempla. E deixa-se encantar pela criação. Se ainda fôssemos capazes de admirar a beleza das coisas… Se ainda nos pudéssemos espantar com a bondade que ainda mora no coração dos homens… Se ainda nos deslumbrássemos com as palavras paz, pai, mão, mãe, com a palavra amor, com a força da coragem, com a luz que nos chega da cruz que rompe o tempo, com os abraços que nos seguram quando a vida nos faz tropeçar… Se ainda nos permitíssemos esperar a alternância das estações, saborear os seus frutos, lavar o nosso olhar de tanto muro que nos impede a luz…
Permitam-me o espanto. E a esperança. A que projetamos em cada Pai nosso. A que nos faz mover em direção ao amanhã. Permitamo-nos o amor. O que nos leva a segurar a cruz uns dos outros. O que nos leva a acreditar que, no fim, tudo estará perfeito.