Uma democracia saudável exige equilíbrio entre estabilidade e mudança. Ambas são essenciais para garantir o desenvolvimento sustentado de qualquer sociedade democrática. O resultado das eleições regionais de 23 de março traduz a vontade soberana dos madeirenses e, apesar da minha profunda convicção democrática, não posso deixar de lamentar pessoalmente o resultado obtido pelo Partido Socialista da Madeira (PS-M). Este sentimento será, estou certa, oportunamente refletido em sede própria.
É indiscutível que o povo da Madeira manifestou uma preferência clara pela estabilidade. Contudo, estabilidade não deve, nem pode, significar estagnação ou resistência à mudança. É perfeitamente possível conjugar ambos os conceitos, avançando rumo a um futuro que responda aos desafios crescentes que enfrentamos. Os madeirenses tiveram perante si a oportunidade de optar simultaneamente pela estabilidade e pela mudança, mas acabaram por privilegiar predominantemente a primeira dimensão.
A história recente da Madeira demonstra que uma aparente estabilidade política demasiado longa, se não for acompanhada por renovação e abertura à mudança, tende a cristalizar práticas que beneficiam apenas alguns em detrimento do interesse coletivo, dificultando a inovação e perpetuando problemas estruturais que permanecem sem respostas concretas para as reais necessidades dos madeirenses.
Por isso, apesar do resultado, é fundamental que a vontade popular seja sempre respeitada. Esse respeito pelo voto constitui um pilar essencial de qualquer democracia saudável, mesmo quando não concordamos plenamente com o rumo escolhido.
Contudo, não podemos esquecer que a democracia não é um exercício pontual. É um compromisso contínuo, uma prática constante e dinâmica. O papel do PS-M não se esgota neste resultado eleitoral; pelo contrário, reforça-se num compromisso renovado de acompanhar, escrutinar e propor alternativas. É essencial que essa reflexão decorra internamente, com uma participação ativa e construtiva por parte de todos aqueles que têm assento nos órgãos próprios do partido, contribuindo efetivamente para um debate franco e aberto. Acredito que as ideias devem ser debatidas internamente antes de serem tornadas públicas, evitando-se, assim, que discussões essenciais sejam substituídas por declarações avulsas em artigos nos órgãos de comunicação social ou nas redes sociais.
O PS-M certamente continuará a contribuir ativamente para a melhoria das condições de vida dos madeirenses e para o progresso sustentável da região, mesmo estando já próximos das cinco décadas de governação dos mesmos protagonistas políticos – uma situação que limita e prejudica as oportunidades de real desenvolvimento da Madeira, como demonstram os últimos dados.
A democracia cresce e fortalece-se quando reconhecemos o valor das diferenças, dos contributos plurais e do diálogo permanente. Numa democracia madura, a mudança nunca será uma ameaça à estabilidade, mas sim um complemento imprescindível para o seu fortalecimento. O resultado eleitoral de 23 de março representa, acima de tudo, um apelo à reflexão profunda sobre os caminhos que queremos percorrer enquanto sociedade e sobre como pretendemos construir o nosso futuro coletivo.