Terminei o trabalho e comecei a arranjar-me. Os nervos batiam à porta. “Será que é simpático? E se não tivermos conversa? E se ele não for quem diz ser?” A reserva estava feita para as 20h, num bar perto de casa e uma amiga tinha a minha localização. Este é o meu ritual antes de um primeiro encontro. Depois de uns dias a trocar mensagens, lá fui eu.
O bar era familiar, a conversa fluía e as cervejas também. Depois de um par de horas, despedimo-nos. No regresso a casa, pego no telemóvel para contactar a amiga e enviar-lhe um podcast pessoal com os detalhes das últimas horas. Já estava de pijama quando recebei a mensagem: “Oii Pat, gostei muito de te conhecer, pareces ser uma pessoa incrível. Contudo, só queria deixar claro que estou a explorar as minhas opções. Não quero dar a ideia errada.” Que, caro leitor, é sinónimo de: “Quero continuar a escolher do menu que o Tinder me dá.”
Foi nesse momento que percebi: o problema não era eu. O problema era o que as apps estavam a fazer connosco e a ilusão que nos vendiam. Quando o amor se torna uma escolha infinita, torna-se também facilmente descartável.
As aplicações, ou apps, de encontros surgiram com a promessa de facilitar algo que sempre foi difícil, mas que hoje parece impossível: encontrar o amor. Mas, ironicamente, parecem ter feito o oposto. Em vez de aproximar as pessoas, criaram um mercado de opções ilimitadas que nos faz acreditar que há sempre alguém melhor a um deslize ou swipe de distância. A galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha, não é?
Há casos de sucesso? Sim, mas são a excepção, não a norma. Se antes o amor e as relações nasciam da construção e da aceitação, agora vivemos na cultura do descartável. Um pequeno defeito e pronto, já é motivo suficiente para avançar para o próximo perfil. As relações tornaram-se transações rápidas e a busca incessante pela perfeição transformou o amor num produto escasso. A ironia é evidente: nunca tivemos tantas opções, mas nunca estivemos tão sós.
A ascensão das apps de encontros também trouxe à tona um problema: a solidão masculina. Estudos mostram que os homens, especialmente os mais jovens, enfrentam níveis alarmantes de isolamento emocional. Um inquérito do Pew Research Center de 2022 revelou que seis em cada dez homens com menos de 30 anos são solteiros. E um estudo de 2023, feito pelo Equimundo, o Centro de Masculinidades e Justiça Social, concluiu que cerca de um em cada cinco homens não procura uma relação ou não consegue encontrar uma parceira. Mas não é alarmante só no aspecto romântico: um estudo efectuado em 2021 pelo Centro de Inquérito de Vida America revelou que 15% dos homens afirmam não ter amigos próximos, o que representa um aumento surpreendente de 12% desde 1990. As redes sociais e as plataformas de encontros, em vez de resolverem esta crise, estão a agravá-la?
Se as apps de encontros não nos estão a aproximar do amor, ou das pessoas, talvez seja hora de repensar a forma como as usamos. Ou até mesmo a necessidade de as usar. O amor não é um algoritmo, nem um catálogo de escolhas infinitas. Requer tempo, esforço e vulnerabilidade, elementos que a cultura do swipe não incentiva.
Talvez a resposta esteja em resgatar formas mais orgânicas de conhecer pessoas: círculos sociais, atividades partilhadas… Talvez seja hora de valorizar a profundidade em vez da quantidade, de aceitar que o amor não se trata de encontrar a pessoa perfeita, mas de construir algo real com alguém imperfeito.