A iniciativa SOS Oceano terminou hoje em Paris com uma mensagem de urgência pela saúde do oceano e do planeta, com um manifesto que o ator Harrison Ford considerou “o mais ambicioso apelo” à proteção do mar.
“O manifesto SOS Oceano é o mais ambicioso apelo à ação na memória recente para proteger o alto mar e o fundo do oceano, para acabar com o fluxo de poluição para as águas do mundo, para que retiremos apenas o que precisamos e deixemos o resto para quem vem depois de nós”, disse o ator norte-americano num discurso gravado para a cerimónia de encerramento da iniciativa.
O manifesto é um apelo lançado pelos cientistas, ambientalistas e representantes da sociedade civil reunidos ao longo dos últimos dois dias em Paris num encontro que visava lançar as bases da terceira conferência do oceano das Nações Unidas (UNOC3), prevista para junho em Nice.
Nele, os participantes apelam aos decisores políticos que se reunirão em Nice para que atuem, numa altura em que o oceano, que cobre quase três quartos do planeta, está “em turbulência”, apresentando cinco compromissos: o desenvolvimento de uma estrutura ambiciosa e robusta para a governação internacional do oceano, o combate à poluição, a implementação de Áreas Marinhas Protegidas, a criação de uma economia azul sustentável e a promoção de ciência, investigação e conhecimento sobre o oceano.
Durante a conferência de hoje, a oceanógrafa norte-americana Sylvia Earle disse que o planeta está no momento certo para agir: “Nunca antes soubemos tudo o que sabemos e nunca mais teremos uma oportunidade tão boa para mudar a trajetória de declínio do planeta para a recuperação”.
Ao longo de dois dias, cientistas, ambientalistas e dirigentes políticos enunciaram os diversos problemas e desafios que o oceano enfrenta.
Como resumiu o enviado especial da ONU para o Oceano, Peter Thomson: “Com as temperaturas dos oceanos a continuarem a aumentar alarmantemente, o nosso trabalho sobre o oceano é cada vez mais vital. Guiados pela melhor ciência oceanográfica, somos instados a combinar e multiplicar os nossos esforços para controlar as emissões de gases com efeito de estufa, parar a poluição química e pelos plásticos, acabar com as práticas prejudiciais de pesca e proteger a biodiversidade marinha”.
O presidente do Conselho Europeu, o português António Costa, reiterou a mensagem de que é urgente mudar de rumo: “Não podemos continuar a virar as costas aos oceanos, porque os oceanos, acima de tudo, são um bem comum da humanidade. Capturam 90% do excesso de calor Gerado pela atividade humana, abrigam 80% da biodiversidade global, produzem 50% do oxigénio e absorvem 25% do nosso dióxido de carbono”.
Já o chefe de Estado francês reiterou a ideia de que, enquanto alguns países procuram explorar Marte, a Europa deve focar-se em Neptuno e descobrir o oceano.
Segundo Macron, Marte pode “fazer acreditar que existe um planeta de substituição, mas não existe planeta B”, pelo que é preciso tornar a Terra um planeta habitável.
Num balanço da iniciativa aos jornalistas portugueses, o presidente executivo da fundação Oceano Azul recordou que os cientistas “estão verdadeiramente angustiados” porque sabem que há soluções, mas não veem a comunidade internacional tomar decisões.
“E, portanto, os cientistas lançam um apelo, e aqui, no SOS Oceano, foi verdadeiramente um SOS. (…) Eles disseram-nos que temos a janela de oportunidade a fechar, e para isso eles querem decisões”, disse Tiago Pitta e Cunha.
Por ocasião da iniciativa realizada na capital francesa, a torre Eiffel esteve na noite de domingo iluminada de azul, pela primeira vez, em homenagem ao oceano.