A opinião dos Estudantes

Na Universidade da Madeira (UMa), como noutras instituições de ensino superior, a presença de estudantes em órgãos, comissões e conselhos é frequentemente invocada como um exemplo de participação democrática. Contudo, na prática, esta presença revela-se muitas vezes um exercício vazio, onde a opinião estudantil é solicitada sem que sejam dadas as ferramentas necessárias para que essa participação seja efetiva e construtiva.

A auscultação dos estudantes, prevista nos regulamentos, parece funcionar apenas como um formalismo. Somos chamados a opinar, a deliberar e a contribuir, mas sem acesso a informação adequada, sem tempo para uma análise aprofundada e sem qualquer formação específica sobre os temas em discussão. O resultado é um conjunto de intervenções superficiais que acabam por confirmar a perceção de que os estudantes “não percebem nada” ou “não dão opinião”.

A falta de documentação atempada é um dos principais problemas. Os órgãos da universidade frequentemente demoram a enviar informação essencial, obrigando os estudantes a tomar posições de última hora, sem tempo para ponderação ou consulta com os seus pares. Muitos documentos chegam em cima da reunião, forçando uma discussão apressada e desprovida de profundidade. Além disso, é comum que os estudantes eleitos para estes órgãos não recebam qualquer formação sobre os seus direitos, deveres e mecanismos de participação. Enquanto os representantes docentes e outros membros já têm experiência e acesso a informação privilegiada, os estudantes são lançados nestes órgãos sem qualquer preparação, o que leva a uma desigualdade gritante na capacidade de argumentação e influência.

Para que a participação estudantil nestes órgãos seja realmente eficaz, é imprescindível que sejam garantidas condições adequadas. Os documentos devem ser enviados com antecedência suficiente para permitir um estudo detalhado. Deve ser disponibilizada formação básica sobre os processos e as dinâmicas institucionais. O próprio ambiente das reuniões precisa de ser reformulado para que os estudantes se sintam verdadeiramente parte das decisões, e não meros espetadores de um teatro administrativo. No entanto, a falta destas condições resulta numa imagem distorcida dos estudantes. Quando estes não conseguem intervir de forma robusta, a responsabilidade é frequentemente atribuída à sua suposta falta de conhecimento ou desinteresse, em vez de ser reconhecida como uma consequência das próprias limitações impostas pelos órgãos institucionais. Assim, perpetua-se um ciclo vicioso em que a universidade pede opinião aos estudantes, mas não lhes dá os meios para que esta seja significativa e, depois, culpa-os pela falta de envolvimento qualificado.

Se queremos uma universidade mais justa e participativa, é fundamental que a voz estudantil seja mais do que um ponto de ordem nas atas das reuniões. É necessário um compromisso real para integrar os estudantes nos processos de decisão de forma informada, digna e equitativa. Caso contrário, continuaremos a ser apenas um acessório decorativo num sistema que, na prática, não nos quer ouvir.

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