Esta semana estava com o meu filho mais novo a ver o desenho animado “Daniel Tigre”, um programa direcionado ao público pré-escolar e achei curiosa a coincidência temática do episódio: “O Bairro Vota”. E o que é que Daniel Tigre aprendeu? Que a vida é feita de escolhas e suas consequências, enquanto cantava, numa melodia simples, “antes de fazer uma escolha: Para, Pensa e Escolhe!”.
Na verdade, automatismos eleitorais são fenómenos que podem persistir nalguns eleitores, mas não enriquecem as nossas democracias, bem pelo contrário. Muitos consideram o dia de reflexão desnecessário. Que a campanha eleitoral deveria cavalgar bem até à 00h01 do dia eleitoral. Uns que inclusivamente não vêem mal que ela decorra ainda durante as próprias votações… Mas é calmante – para eleitores e candidatos – ter uma fase de introspecção e serenidade antes do arranque da eleição.
Assim, hoje, dia de reflexão para o ato eleitoral que acontece amanhã na nossa Região, escrevo para apelar a essa reflexão pessoal: pare, pense e escolha.
Apesar da perigosa hiper-personalização de alguns atos eleitorais ditar a redução da importância dos conteúdos programáticos junto do eleitorado, é fundamental ter em mente que aquilo que firma a relação entre eleitor e eleito são os programas eleitorais (mais até do que as ténues palavras, ditas em formato de promessa eleitoral, que muitos eleitores já aprenderam a questionar). A palavra escrita – as propostas e a forma de concretizá-las – tem sempre um valor mais elevado que a espuma do dia, proferida no calor da campanha. São precisamente esses programas eleitorais que formam a base negocial de futuros acordos parlamentares e/ou coligações pós-eleitorais, numa altura em que maiorias absolutas deixaram de ser regra em democracia. Senão, caímos numa deriva de arbitrariedades, onde tudo é defendido e seu contrário, somente para permitir a perpetuação no poder. Assim, é essencial comparar programas eleitorais, tal como eles são facultados ao eleitorado, facto que hoje em dia é ainda mais simples devido aos websites partidários, onde se pode aceder a essa informação. É preciso parar para analisar, para não assinar nenhum cheque em branco no domingo.
Outro fator essencial à reflexão, reside nas alianças futuras que os partidos políticos poderão firmar após o ato eleitoral determinar a composição da Assembleia Legislativa Regional. Quem colabora com quem? Será que essas alianças estão de acordo com os princípios fundamentais que cada eleitor defende? São as chamadas “linhas vermelhas”, há quem as tenha, há quem as desdenha. De qualquer forma, cabe ao eleitor escolher, até onde é que atribui um mandato aos seus eleitos de colaborar com outras bancadas ou se vale tudo para atingir o poder. Nas palavras do ex-líder da FDP na Alemanha, quando em 2017 decidiu abandonar as negociações para uma coligação pós-eleitoral: é “melhor não governar, que governar mal”, porque as cedências que faria do seu programa eleitoral teriam sido demasiado elevadas.
Por fim, é importante refletir sobre sondagens. São instrumentos importantíssimos para as diferentes campanhas partidárias avaliarem possíveis tendências eleitorais e ajustarem-se de acordo com as mesmas. Os jornais estão repletos de casos em que sondagem falharam redondamente a sua tendência ou, noutros casos, em que moldaram indecisos. Por isso é sempre importante analisar amostras, metodologias e as próprias leituras que são feitas sobre as mesmas.