O bastonário da Ordem dos Engenheiros lamentou a instabilidade política que Portugal atravessa, com novas eleições legislativas nacionais à porta. “Esta convulsão política vai atrasando as decisões públicas e, ao atrasar as decisões, atrasa o desenvolvimento do país, que se fundamenta muito em infraestruturas. Naquilo que é a intervenção da engenharia e dos engenheiros, naturalmente condiciona, cria algum impacto”.
O comentário foi feito aos jornalistas por Fernando de Almeida Santos momentos antes à cerimónia do Dia do Engenheiro, hoje realizada no Jardim Botânico, espaço fundado pelo engenheiro e antigo presidente da Ordem, Rui Vieira.
O bastonário exemplificou com obras no continente, como “poderia ter dado ao nível da mobilidade urbana da Madeira”, mas apontou que Portugal está em vias de adjudicar a linha de alta velocidade entre Porto e Aveiro, “para termos fundos disponíveis até junho, mas o Governo, neste momento, não está em condições para lançar o concurso, porque terá de haver as eleições que cortam ciclos de decisão”.
Por seu turno, Miguel Branco, da secção regional da Ordem dos Engenheiros, afirmou aos jornalistas que as engenharias são cada vez mais importantes no mundo atual, não só as mais tradicionais, de engenharia civil ou mecânica, como as mais recentes ligadas às novas tecnologias.
Miguel Branco salientou, por outro lado, que é necessário atrair mais jovens para as Engenharias, referindo que a universidade da Madeira tem ajudado nesse desiderato, com os cursos que ministra. O ainda presidente do conselho regional da Ordem lamentou, contudo, que, ao nível do ensino secundário, tenha sido “criado um grande preconceito naquilo que são as disciplinas de matemática”, de que são “muito difíceis”, o que estará a afastar alunos de seguir esta profissão.
“Temos de despertar a consciência nos jovens para exercer essa profissão fascinante”, afirmou o responsável, lembrando que a Ordem conta com cerca de 1.400 membros na Madeira, “estão todos empregados e a fazer o que gostam”.
Nota ainda que, na cerimónia, e naquele que foi o seu último discurso enquanto presidente da Secção da Madeira da Ordem, Miguel Branco recordou a importância histórica da engenharia na Madeira, desde os primeiros povoadores até aos dias de hoje. Destacou o papel fundamental da engenharia na sustentabilidade e modernização do arquipélago, sublinhando que “a engenharia sempre foi, e continuará a ser, a força motriz que transforma obstáculos em oportunidades”.
Este ano, a celebração focou-se na importância da engenharia no setor primário, com destaque para o contributo da engenharia na valorização da produção local, preservação da paisagem e modernização agrícola.
Presente na cerimónia, o secretário regional de Equipamentos e Infraestruturas, Pedro Fino, afirmou que os engenheiros “têm sido verdadeiros pilares da nossa economia, da nossa sociedade e do nosso progresso”, destacando o seu papel na “definição e implementação das melhores soluções em direção ao desenvolvimento sustentável da nossa região, bem como à constante melhoria da vida das pessoas”. Elevou ainda a importância que estes profissionais têm para o futuro da Região.
De referir que foram homenageados três engenheiros que se destacaram neste setor: António Miguel Franquinho Aguiar (engenharia agronómica), Jacques Artur Faro da Silva (engenharia mecânica) e José Carlos Antunes Marques (engenharia química), com percursos nas áreas pública, académica e agroindustrial.
”Uma grande honra”
Os homenageados manifestaram-se honrados pela distinção. Miguel Franquinho Aguiar admitiu que “não estava à espera”, e confessou sentir uma “grande honra”.
Com uma carreira de 37 anos dedicada ao estudo dos insetos, Miguel Franquinho Aguiar partilhou a curiosidade de ter iniciado essa paixão uma década antes de ingressar na licenciatura, transformando um hobby de infância numa profissão. Já próximo da reforma, assegura que pretende continuar ativo na investigação e divulgação científica, reforçando a publicação de dados acumulados ao longo da carreira.
“Enquanto a mente e o corpo o permitirem, este hobby profissional vai continuar”, concluiu com gratidão.
Já Jacques Faro da Silva confessou ter ficado surpreendido e grato por homenagem no setor primário. Recordou com apreço os anos que trabalhou na empresa Madeira Wine, onde teve uma ligação significativa ao setor, especialmente através de funções de gestão. “Na nossa vida profissional, muitas vezes começamos nas áreas técnicas e acabamos por transitar para a gestão”, sublinhou, referindo que foi esse percurso que lhe permitiu um envolvimento relevante com o setor agrícola e agroindustrial.
Por fim, o engenheiro químico José Carlos Marques destacou a transição da indústria farmacêutica para o setor vitivinícola e apelou à colaboração entre Universidade e a Indústria. Partilhou com os presentes o percurso singular que o levou da indústria farmacêutica para o setor dos vinhos, em especial o Vinho Madeira.