Tem sido das expressões mais recorrentes entre adultos e jovens desanimados com o presente e descrentes no futuro. Acreditam que nada depende deles. Se alguém tem sucesso, foi porque aldrabou. Se um patrão tem um negócio próspero, foi porque explorou alguém. O mundo é cruel, e a culpa recai sempre sobre o sistema, sobre os outros, os tais que deveriam garantir os nossos direitos. Isso legitima a inação.
Como pais, na ânsia de oferecer o melhor, acabamos por dar tudo – menos o essencial: autonomia, responsabilidade e capacidade de lidar com a frustração. Assumimos que os nossos filhos são incapazes de se desenrascar e, quando algo corre mal, exigimos que alguém resolva.
Na escola, caímos na mesma armadilha. Protegemo-nos de maledicências e facilitamos a qualquer custo, como se o caminho fosse eliminar as dificuldades, mesmo sabendo que aprender exige esforço, falhar, tentar de novo, superar obstáculos e celebrar pequenas conquistas.
Nas empresas, a situação repete-se. Entra-se e sai-se dos empregos sem criar raízes, sem propósito. A indignação tornou-se crónica, mas a ação continua rara. Falamos dos nossos direitos sem refletir sobre as responsabilidades e preocupações do outro lado.
Andamos doentes, carrancudos, ansiosos, desmotivados, sem energia. Dormimos mal. Sentimos um vazio que tentamos preencher com redes sociais, compras, distrações. No fundo, sabemos que algo está errado e que não podemos continuar a viver assim, evitando questionar e refletir, para poder continuar a dizer: “Não sou eu que mando. Eles que façam alguma coisa.”
A distância entre a apatia e o autoritarismo é curta. Quando deixamos de pensar e decidir, alguém o fará por nós. É quando surge “O Salvador”, aquele que sabe o que é melhor para todos. O que “fala as verdades” e castiga quem não obedece. Aí sim, pensar por conta própria pode ter um preço alto. Cumprir ordens torna-se essencial para sobreviver.
Como se diz por aí: “Depois não se queixe.”
Mas há algo que podemos fazer. Dá trabalho, mas vale a pena:
Como pais, permitamos que os filhos sintam frustração, sem medo de que nos chamem de reles. Ajudemo-los a encontrar soluções, a perceber que nem tudo se resolve apontando culpados. Mostremos que pedir ajuda – diferente de “façam por mim” – não é fraqueza, é inteligência.
Como professores, o nosso papel vai além de cumprir o programa (por vezes desfasado da realidade, eu sei). É estimular o pensamento, a reflexão e a busca por respostas próprias. É ter coragem de assumir que exigir não é falta de empatia, mas um ato de confiança: os alunos podem mais do que os fizeram acreditar.
Como comunidade escolar, levemos a sério a missão do ensino. Mais do que avaliar a capacidade de retenção, é dar ferramentas para que cada um dê o melhor de si. O ensino precisa de uma reforma profunda que vá além de satisfazer necessidades imediatas de professores, famílias e do próprio sistema político. Não pode depender só de pressões externas.
Nas empresas, arrisquemos. É lá que passamos a maior parte do nosso tempo. Continuemos a sugerir melhorias, mesmo que pareça que ninguém ouve. A confiança constrói-se dos dois lados. Se queremos chefias mais recetivas, sejamos profissionais mais participativos.
Como filhos, temos um compromisso connosco próprios: desenvolver a nossa mente, construir opiniões. Questionar quando algo parece errado, procurar caminhos e, quando não soubermos como avançar, perguntar.
Mais do que “está tudo louco” é fazer por viver melhor a maior parte do tempo.