O Cuidado centrado na pessoa

A humanização dos cuidados de saúde tem vindo a ganhar uma relevância crescente, sendo vista como um instrumento essencial para assegurar cuidados eficazes e dignos à pessoa e à sua família, num contexto em que o sistema de saúde enfrenta desafios cada vez mais complexos e significativas limitações estruturais.

A centralidade da pessoa e da família no sistema de saúde não deve ser perspetivada como um conceito abstrato, mas sim como uma prática indispensável à garantia da qualidade e segurança dos cuidados prestados.

Colocar a pessoa e a família no centro dos cuidados de saúde significa reconhecer a singularidade de cada ser humano, respeitando os seus valores, convicções e preferências, implementado planos de cuidados, que integrem estas características.

O modelo assistencial centrado na pessoa é indispensável ao sistema de saúde. A enfermagem, devido à sua proximidade com o utente, desempenha um papel fundamental na promoção e salvaguarda da sua implementação.

Um modelo de cuidados centrado na pessoa não se cinge a tratar a doença, integra uma compreensão holística do seu contexto social, emocional e psicológico, asseverando-lhe voz ativa no seu próprio processo de saúde.

Neste modelo assistencial, a família desempenha um papel essencial, muitas vezes negligenciado nos processos de decisão. A sua participação ativa, é crucial, dado o impacto que exerce no bem-estar do doente e na adesão ao tratamento, além de contribuir significativamente para a sua recuperação.

Os enfermeiros, enquanto profissionais que acompanham o doente ao longo de todo o seu percurso assistencial, encontram-se numa posição privilegiada para implementar e promover os cuidados centrados na pessoa. Tal implica não apenas uma abordagem técnica, mas também um compromisso com uma prática que respeite a dignidade, a individualidade e as necessidades do utente.

Neste sentido, a comunicação eficaz e assertiva, entre profissionais, doente e família, a inclusão do doente e da família nas decisões sobre os cuidados e a personalização da assistência são pilares para uma prática de enfermagem verdadeiramente centrada na pessoa.

A literatura sugere que a participação ativa do doente e da família nos cuidados de saúde gera benefícios significativos, contribuindo para uma maior segurança, um nível mais elevado de satisfação, uma melhor adesão do doente à terapêutica, uma redução do tempo de internamento, e uma redução de complicações e de reinternamentos.

Apesar das múltiplas vantagens associadas à implementação deste modelo assistencial, a sua concretização plena ainda enfrenta desafios significativos. A prevalência de uma cultura organizacional orientada para a eficiência em detrimento da humanização, aliada à escassez de recursos humanos e à sobrecarga de trabalho, constitui um entrave à prestação de cuidados verdadeiramente centrados na pessoa que vive um processo de doença.

A prestação efetiva de cuidados centrados na pessoa requer uma mudança de paradigma e de mentalidade, já que exige um compromisso contínuo com a formação dos profissionais de saúde. É fundamental capacitar para a adoção de estratégias que promovam a humanização dos cuidados, assegurando a participação ativa da pessoa e da sua família no processo assistencial. Só através deste investimento na qualificação e na sensibilização dos profissionais será possível consolidar uma prática verdadeiramente centrada no doente, garantindo uma assistência mais humanizada, eficaz e alinhada com as suas necessidades.

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