Hoje comemoramos o Dia do Pai. E o que é ser Pai?
Ser Pai (biológico ou não) é aceitar “ser construído numa relação de amor com o próprio filho, que modifica radicalmente e define de modo novo o que se era” e que cria uma ligação que vai até à eternidade.
O pai é um sinal, um farol que “introduz o filho na experiência da vida, na realidade, não o prende, nem o subjuga, mas torna-o capaz de opções, de liberdade, da capacidade de partir.”
Cada filho encerra um mistério que é revelado à medida que vai crescendo, sempre com o auxílio dos que o amam, com o auxílio de um pai, de uma mãe, dos irmãos, da família, dos amigos. E quando esse menino ou menina se tornar disponível para autonomamente fazer caminho pelos trilhos da vida, então, o pai perceberá que cumpriu o seu papel.
A vida, por vezes, surpreende-nos de um modo extraordinariamente brutal e, nessa brutalidade da vida, eis que um pai vê partir para a eternidade o seu filho muito amado. É uma dor que parece enlouquecer quem é pai, quem é mãe. Mas o Amor que foi dado, revelado durante a vida, constitui um fragmento do infinito que os ligará para além do tempo e do espaço.
Assim, e colocando a tónica nessa grande herança que é o Amor, pois quem não dá Amor, pouco ou nada dá, então, a paternidade é muito mais do que colocar, apenas, uma criança neste mundo.
Conheço muitos homens, familiares e amigos que não sendo pais biológicos são, efetivamente, aqueles que se tornam pais, por assumirem a responsabilidade pela vida de outrem. A todos eles dirigimos, neste Dia do Pai, o nosso mais profundo agradecimento, pois o seu cuidar, as suas ternuras, os seus afetos constituíram o berço das crianças, dos jovens, dos adultos que ficaram sem a figura paterna biológica (pelas mais variadas circunstâncias da vida) contribuindo, assim, para a sua equilibrada constituição psíquica.
Mas, infelizmente, e na sociedade atual, muitos filhos parecem ser órfãos.
Quantos pais não pagam as prestações de alimentos devidas aos filhos por não quererem? Por considerarem que não têm de o fazer? Quantos pais, não obstante, pagarem a prestação de alimentos, prescindem de passar tempo com os filhos, porquanto a nova família, os filhos que, entretanto, nasceram de uma nova ligação amorosa, e os seus amigos, passam a ser o centro das suas atenções? Quantos filhos deixam de sentir que são um bem precioso para os seus pais e passam a viver o sentimento de abandono afetivo que lhes causa irremediáveis danos psíquicos e emocionais? Alguns destes filhos confidenciaram-me que apenas desejariam ter um pouco mais de afeto, de atenção, de momentos de partilha com o seu pai. A verdade é que o tempo foi passando e agora, já na idade adulta, estes filhos não pretendem reatar uma relação paterno-filial que ficou perdida no passado, pois, dizem-me, “já não vale a pena”!
Ao invés, também há mães que ardilosamente, não permitem que os pais possam exercer a sua parentalidade, pois perdidas nas suas dores, tudo fazem para afastar as crianças da figura paterna, quer com mudanças ilegítimas de residência, quer com denúncias infundadas que suscitam a abertura de processos de inquérito que até ao decurso de investigação determina o afastamento das crianças com o pai.
O Pai é aquele que ainda que longe está perto, que coloca o filho no centro, que não desiste, que não tem preferidos, que está disponível, que rabuja, que se zanga, que abraça e que não tem vergonha em dizer “amo-te filho (a)”. Mas não há pais perfeitos, tal como não há filhos perfeitos, nem famílias perfeitas. E esta simples constatação permite-nos perceber que na relação paterno-filial é imprescindível adquirir “a capacidade de aceitação dos limites, o reconhecimento de um dom absoluto, ainda que transmitido de modo débil, a experiência de perdão, o reencontro e a prevalência da gratidão”.
Feliz Dia do Pai!