Nunca esteve tão bom para quem gosta de inventar desculpas

Certamente todos concordamos em concordar que já são eleições a mais. Que a política regional está pela hora da morte. Que a nacional vai pelo mesmo caminho. Que a europeia e internacional não estão melhores.

Politicamente, estamos perante uma situação perigosa. Escorregadia. Propícia a trambolhões como assistimos todos os dias por esse mundo fora.

Em ambientes destes, os que mais se evidenciam ocupam dois campos opostos: os desinteressados e os interesseiros.

Os primeiros, olham para tudo isto como se fossem superiores. Como se a política, por mais frágil que esteja, também não fosse parte importante da vida deles. Da nossa vida. E então deixam seguir o andor.

Os segundos, conseguem ver no pântano uma oportunidade. Deixam chegar ao pior para mostrar que é possível fazer melhor. E os distraídos acreditam sem pensar, aplaudem sem ver, votam sem refletir.

Entretanto, os partidos e os políticos estão permanentemente em modo de eleições. Em campanha eleitoral, ou a preparar a próxima. A ler sondagens, ou a comparar com resultados das eleições. A estudar o programa de governo ou a escolher candidatos para as Câmaras e Juntas de Freguesia. A negociar acordos de governo ou a mandar governos abaixo.

Esta é a vida dos políticos encartados. Daqueles que têm carteira profissional de político a tempo inteiro. Dos que não sabem, não podem ou não querem fazer outra coisa na vida.

Por muito injusta e simplista que seja esta apreciação – que evidentemente não pode ser generalizada – a verdade é que os madeirenses foram metidos ao barulho dos partidos e de lá não saem desde meados de 2023. Está quase a fazer dois anos!

E assim continuamos, mergulhados numa indefinição política que se percebe, porque a instabilidade atrasa e compromete tudo e porque um governo de gestão está parcialmente limitado na sua ação e no seu programa. Isso é uma coisa.

Outra coisa é esta paralisia agoniante da máquina governativa que travou a fundo quase tudo o que mexe. E isso não se entende facilmente. A não ser à luz de uma vincada ideia de desresponsabilização de alguns protagonistas, de segunda linha, que aproveitam este tempo morto para matar o tempo.

E é aqui que entram outros níveis de poder. Um poder que é exercido longe do público, por gente desconhecida que vive atrás de secretárias ao fundo de gabinetes escuros cheios de resmas de papel para despachar.

Aparentemente, trata-se de um nível de poder menos influente. Na prática, são tão ou mais poderosos do que os chefes diretos, às vezes mesmo mais decisivos do que os titulares, aqueles que dão a cara, que assumem os louros, mas também levam com as falhas.

São esses poderosos de segunda linha que vivem no meio da engrenagem e estão livres de encrencas. Entram às 9, saem às 5. Acumulam papéis, adiam procedimentos, esquecem assinaturas, retardam prazos.

Isso também é poder. É o poder escondido. É o pequeno grande poder.

Para esses, nunca esteve tão bom como agora para não fazerem nada.

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