Consegue calcular as horas sem olhar para o relógio? Algumas pessoas não têm um sentido natural de controlo do tempo, algo conhecido como Cegueira Temporal. O termo foi cunhado em 1997 pelo investigador Russell Barkley, num artigo sobre autorregulação e perceção do tempo em pessoas com Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA).
Não sendo um diagnóstico médico formal, a revista Medical Science Monitor refere que uma pessoa com Cegueira Temporal tem dificuldade em atividades que envolvem a gestão do tempo, tais como o planeamento, a programação e a definição de objetivos. Embora esteja, frequentemente, associada à PHDA, um estudo publicado na revista Trends in Cognitive Sciences refere que a perceção do tempo está intimamente relacionada com os nossos estados emocionais, pelo que é possível que qualquer pessoa, em determinamos momentos, possa ter uma sensação de perda da noção temporal.
Segundo Mark Travers, psicólogo especialista na área, os sintomas mais comuns são os seguintes: a) Dificuldade em gerir o seu tempo; b) Atrasar-se cronicamente para tudo; c) Dificuldade em alternar entre tarefas; d) Procrastinar frequentemente; e) Problemas de impulsividade; f) Dificuldade em cumprir prazos.
Felizmente, existem estratégias para gerir a Cegueira Temporal, das quais a publicação Healthline destaca as seguintes: 1) Defina alarmes no seu telemóvel ou num relógio para o lembrar tarefas específicas e de quando é altura de fazer a transição para uma nova tarefa; 2) Crie horários visuais ou listas de afazeres com blocos de tempo claros para cada tarefa, ajudando-o a visualizar o dia e a manter-se no caminho certo; 3) Divida as tarefas maiores em etapas mais pequenas e mais fáceis de gerir, com prazos específicos, ajudando a manter-se concentrado e a acompanhar o progresso; 4) Explore aplicações de gestão do tempo, com funcionalidades como lembretes e listas de tarefas; 5) Estabeleça rotinas diárias e cumpra-as o mais fielmente possível, uma vez que a consistência ajuda a regular a sua noção interna do tempo; 6) Mantenha-se atento, pois a atenção plena ajuda a avaliar melhor o tempo e a reduzir a sensação de que o mesmo está a passar; 7) Identifique as atividades que consomem muito tempo e atribua-lhes intervalos de tempo específicos na sua agenda.
Também pode recorrer a apoio profissional através de um Coach especializado em gestão do tempo, que lhe facultará estratégias e orientações valiosas. Pode ainda socorrer-se de apoio clínico através de Terapia Cognitivo-Comportamental, a qual irá ajudar a desenvolver competências de gestão do tempo e a melhorar a consciência dos desafios relacionados com o mesmo. No limite, pode ainda ter de recorrer a medicação para PHDA, pois evidência empírica sugere que os medicamentos estimulantes tendem a melhorar a perceção do tempo, estando associados à regulação dos níveis de dopamina no cérebro, a qual desempenha um papel relevante na atenção e na perceção do tempo.
Em suma, a Cegueira Temporal é uma condição complexa influenciada por fatores de natureza cognitiva e neurológica. Da mesma forma que não devemos assumir que uma pessoa com Cegueira Cromática não se preocupa em distinguir as cores, também não devemos assumir que alguém com Cegueira Temporal não se preocupa em gerir o seu tempo. O importante é estar sensibilizado para a condição e adotar as medidas adequadas. Parafraseando a escritora Ursula K. Le Guin: “É preciso trabalhar com o tempo e não contra ele.”