As mesas de voto são seguras

A notícia caiu que nem um petardo. Tudo parecia estranho. Pela primeira vez, desde o 25 de Abril, o PSD falhou uma reunião para escolha dos membros das mesas de voto numa freguesia da região. Outros pequenos partidos já o fizeram, por falta de meios, mas o PSD nunca. Porque a cultura de poder deste partido sempre foi avassaladora. O PSD-Madeira nunca brincou em serviço. Nunca deixou nada ao acaso. Ter membros da sua confiança para controlo, fiscalização e vigilância sobre as assembleias de voto sempre fez parte das prioridades processuais dos partidos dominantes, ao longo destes anos. Porque aqui ou ali se falava de irregularidades, de falcatrua, de chapelada. Sobretudo nos primeiros anos da nossa democracia.

As queixas eram muitas e faziam sempre parte do pacote justificativo dos partidos perdedores. Nunca se provou que o resultado de uma qualquer eleição tivesse sido adulterado por falcatrua. E, só uma vez, houve repetição de uma eleição numa mesa de voto. Curiosamente, apesar do PSD ser, na Região, sempre o partido mais acusado, a única repetição dum ato eleitoral ocorreu numa das mesas de voto da Ribeira Seca, em Machico, nas autárquicas de 2001, onde, com a anuência da maioria dos membros da mesa, indicados pela esquerda, muitas pessoas votaram sem identificação. O que levou aos protestos do PSD e, porque o resultado autárquico para a junta de freguesia foi de apenas quatro votos de diferença entre o vencedor, PS, e o segundo, PSD, o Tribunal ordenou a repetição da eleição naquela mesa.

A disciplina férrea do PSD no que dizia respeito à presença dos seus simpatizantes nas mesas de voto era de tal ordem que alguns ainda se lembram do episódio. Em 1989 o PSD perdeu as eleições autárquicas pela primeira vez para o P. Martins Júnior. Foi um choque que fez abalo de Machico até ao Funchal. É fatal que nos casos de derrota há sempre uns “ouvidores do reino” que se apressam a levar aos chefes supremos as acusações de conveniência. Dessa vez a fúria de Alberto João caiu sobre o pobre coitado do membro da mesa de voto da Ribeira Seca, nomeado pelos social-democratas que se tinha ausentado por longos momentos, disseram os bufos.

É claro que hoje ninguém acredita que as eleições se ganham ou se perdem por ilegalidades nas mesas de voto. As novas gerações já não estão para isso. Como já ninguém acredita muito na campanha do porta-à-porta ou nos discursos à saída das missas. A própria campanha eleitoral já não é considerada tão decisiva como dantes. Segundo os analistas o que mais conta no momento do voto é a imagem, a perceção que o eleitor vai construindo sobre os que governam e sobre as alternativas que se apresentam. Por isso o PSD não vai perder votos em Machico por não ter nenhum membro da sua confiança nas catorze mesas da principal freguesia do concelho. Que isso não sirva de desculpa. Até porque, se fizer bem o seu trabalho, poderá fiscalizar todo o ato eleitoral e contagem dos votos, através dos seus delegados.

A questão mais importante deste episódio não é a possibilidade de qualquer irregularidade devido à ausência de simpatizantes do PSD nas mesas de voto. O que é relevante é a imagem que o partido projeta nesta altura de crucial importância. É sobretudo uma questão de credibilidade de que tanto se precisa neste momento. Não só em Machico, mas também a nível regional. Porque toda a organização do partido está interligada e tem os seus responsáveis no Funchal.

Emanuel Gomes escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.

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