Lembro-me, como se fosse hoje, da última vez que dei por mim a refletir na véspera das eleições. Só que, do nada, já estou novamente em apuros. Digo em apuros porque, invariavelmente, fico dividido.
EstaÌ bem que ao trocarem o Morna por um Camelo ajudaram, pelo menos, a excluir algum. Mas eÌ que as propostas dos candidatos são tantas e tão boas que não tem como não “balançar”.
Reparem, Miguel Albuquerque, no dia dos namorados, foi para o meio dos tachos e presenteou-nos com um spaghetti alla puttanesca. “Uma receita económica”. Acredito. “Leva só azeite, alho, piri-piri, anchovas, azeitonas pretas, alcaparras, tomate, manjericão, queijo parmesão, açúcar e vinho branco”. E a pasta, claro, sempre a pasta.
Talvez farto, ou a tentar cortar nos hidratos, anteontem lançou outro prato. “Ovos aÌ€ Albuquerque”. Comiam-se com os olhos. “O segredo reside no facto dos ovos serem mexidos em banho-maria”. Hum hum. Sei! Assim como nós temos vindo a ser cozinhados também…
Se me permite uma sugestão, para a semana arroje e apresente um prato de autor. Sei laÌ! Omelete aÌ€ Presidente em gestão. Sem ovos. Se precisar de ajuda peça àqueles 2 que o acompanham, empoleirados, nos cartazes.
Já o CafoÌ‚fo falou, imaginem só, numa nova via rápida e num metro de superfície. Que maravilha. Se a via não for para bicicletas, como eÌ a sua especialidade, já me conquistou 1/4 de voto. Pronto. Não eÌ muito, mas jaÌ eÌ qualquer coisinha. Se tivesse sido mais ousado e prometido que a antiga ficaria para os turistas e a nova para os residentes, oh oh… O primeiro risco já era dele!
Quanto ao metro? Tudo bem também. Agrada-me. Mas se eÌ para “regar”, porque não sugerir um Alfa Pendular? PorqueÌ‚ pensar pequeno? Dessa forma, não só nunca será governo como pode ateÌ vir a deixar de ser oposição em breve.
Sim, porque o JPP caÌ não brinca. Já avisou que só de casas, upa upa. Ouvi, com estes 2 que o fogo há-de cremar, o Élvio Sousa dizer: “o nosso compromisso eÌ construir 500 casas por ano”. Um sonho. Por mim era de começar já com uns quantos bungalows suspensos no mar dos Reis Magos. Assim tipo Maldivas. Que luxo. Siga mais 1/4 de voto. E vai meio, pelas minhas contas.
O outro meio? Bem, esse caÌ já estaÌ mais do que decidido. Vai para a coligação Força Madeira. Digam o que disserem, vai e vai mesmo. Então não eÌ que há dias, ao ir deixar os miúdos aÌ€ escola, sem que eles se apercebessem que eu tinha desligado aqueles funks malucos que eles agora ouvem, sintonizei a Rádio JM? Na hora ateÌ me assustei. Comecei a ouvir vozes. Vozes estranhas. Estranhas, mas ao mesmo tempo “familiares”. Rapidamente percebi que era a de uma das líderes da minha nova força política. Então a Raquel Coelho, indignada, afirmava que “faz falta um espaço específico para albergar e cuidar dos sem-abrigo”. Não podia estar mais de acordo. Dias há em que, para conseguirem sair de casa, vejo vizinhos saltarem 2 degraus porque um deles estaÌ ocupado com um ao comprido. “Aberto 24 horas, garantindo dormida, alimentação, higiene, serviço de lavandaria e cuidados de saúde, nomeadamente a saúde mental”. Eishhhhh. Que bem. De repente só vejo uma lacuna. Ou melhor, 3. Faltou assegurar os serviços de massagem, manicure/pedicure e depilação definitiva. De resto eÌ isso. Mais para a frente então pensa-se num ginásio, numa piscina interior, numa sauna e num banho turco, mas para já estaÌ bem assim.
Garantidas as comodidades, então e as regras? A senhora prosseguiu: “EÌ necessário pensarmos num espaço, sem a rigidez dos horários convencionais”. Ora nem mais. Era só o que faltava, os utentes terem que ter uma hora para entrar. Se lhes der na cabeça regressar a “casa” pelas duas, três ou quatro da madrugada, eÌ favor de avisar o porteiro que eÌ para abrir a porta e acompanhaÌ-los aos aposentos sem fazer maÌ cara. Aquilo, no fundo, eÌ para ser um hotel. Bonzinho… Mais alguma coisa? “Se possível uma sala de chuto”. Valha-me Deus. Como eÌ que me tinha esquecido disso?! Acabou-se. O meu voto estaÌ entregue… AÌ€ bicharada, mas estaÌ entregue.
Pedro Nunes escreve ao domingo, todas as semanas.