Há quem diga o que pensa. Depois, há quem pensa muito no que diz. Não há uma forma correta de estar na vida. Depende da circunstância, do que está em causa, do que se quer…
Importante, mesmo, é dizer a verdade. Evitar cair na argumentação que agrade a gregos e a troianos. Embora haja sempre quem não consiga fugir da tentação de arrancar um sorriso do outro lado.
Os momentos de campanha que vivemos são disso exemplo. E nem falamos de quem anda à caça do voto. Centramo-nos em quem ouve que, regra geral, é simpático. Alguns até são levados ao extremo de cumprimentar euforicamente todos os candidatos que se esforçam por dar a conhecer o que querem para o futuro da Região, do concelho ou até do próprio bairro.
O problema é que só se pode votar num… O que é tramado para quem gosta de alegrar os outros. Por isso é que há sempre várias candidaturas que ficam com um chorrilho de promessas de votos, mas acabam enganados. Um pouco como as promessas que fazem muitos candidatos aos eleitores. O que não deixa de ser irónico.
Na verdade, poucos são os que reconhecem que o seu voto já tem outro destinatário. Alguns nada dizem. Outros são mais expressivos e asseguram que sim para depois meter a cruz noutro lado do boletim. Não fazem por mal, claro. Só prometem e não cumprem. Se é recriminável? Talvez… Mas sempre podem dizer que é política. Ou que foram quase forçados. “Minha senhora, é para votar em mim. Ouviu? Posso contar, certo? Veja lá, não me deixe mal.” E, claro, fica difícil fazer a desfeita.
Ainda por cima vivem-se tempos em que candidatos e eleitores parecem cada vez mais calejados. Já não acreditam em histórias. Dizem que sim muitas vezes para se despacharem. Pudera. Já ouviram o mesmo há seis meses e acreditam que vão ouvir discurso idêntico uns meses depois.
Aliás, é comum ouvir que o Carnaval são dois dias. As eleições são mais. No ano passado, o País viveu quatro atos eleitorais. Este ano caminhamos para três, se não houver confiança na moção do primeiro-ministro.
As arruadas, o porta a porta, os comícios, os brindes, a animação… O povo dispensava bem este constante frenesim. Ainda por cima pago pelos contribuintes.
Bom mesmo era um pouco mais de sentido democrático. De pessoas que dizem o que pensam, mas que também sabem pensar no que dizer e fazer quando não lhes é feita a vontade.
Se não houver maioria, com ou sem coligação, tem de haver forma de governar. Porque assim terá entendido o povo. Pelo menos o que acorreu às urnas. Quem não votou, também consente. Independentemente das vontades deste ou daquele, das linhas vermelhas ou amarelas ou dos que acham que o futuro tem de ser tudo menos uma Trumpalhada.
É preciso saber interpretar os resultados. Perceber que a força da oposição não se mede apenas pela capacidade de censura, mas também pela maior fiscalização. E que a governação tem de ser feita com diálogo. Senão estaremos condenados a tempos de constante instabilidade. De pouco respeito pelo regime democrático conquistado há 50 anos em abril. E a democracia não pode ser dois dias de Carnaval. Muito menos 3 ou 4 por ano.