O arquiteto chinês, Liu Jiakun, cujo “caminho para a arquitetura não foi linear nem esperado”, é o vencedor do Prémio Pritzker de Arquitetura deste ano, considerado o mais importante nesta área a nível mundial, foi hoje anunciado.
Nascido em 1956 em Chengdu, na República Popular da China, filho de uma médica, numa família ligada à prática da medicina, alongo de quatro décadas, Liu, juntamente com a sua equipa, projetaram mais de trinta projetos, desde instituições académicas e culturais a espaços cívicos, edifícios comerciais e planeamento urbano em toda a China, e foi selecionado para projetar o Serpentine Pavilion inaugural de Pequim (2018), refere a organização do Prémio.
“Escrever romances e praticar arquitetura são formas distintas de arte, e não procurei, deliberadamente, combinar as duas. No entanto, talvez devido à minha dupla formação, existe uma ligação inerente entre eles no meu trabalho — como a qualidade narrativa e a procura de poesia nos meus ‘designs’”, afirma o arquiteto chinês citado pelo site do Prémio Pritzker.
Entre os seus ensaios publicados cite-se “The Conception of Brightmoon” (2014), em que “explora o conflito entre utopias e a vida humana”, “Narrative Discourse and Low-Tech Strategy” (1997), “Now and Here” (2002) e “I Built in West China?” (2009).
Jiakun, aos 17 anos fez parte do “Zhiqing da China”, um programa estatal de “educação para jovens”, tendo sido designado para a agricultura, mas optou por estudar Engenharia com ênfase em Arquitetura, em 1982, e esteve entre a primeira geração de antigos alunos encarregues de reconstruir a China durante um período de transformação para o país.
Trabalhando para o Instituto de Investigação e Design Arquitetónico de Chengdu, do Estado, no início da sua carreira, ofereceu-se para se mudar temporariamente para Nagqu, no Tibete (1984–1986), a região mais alta da Terra. “A minha maior força na altura parecia ser o meu medo de nada e, além disso, as minhas capacidades de pintura e escrita”, justificou.
Durante esses anos foi arquiteto durante o dia, mas autor à noite, profundamente envolvido na criação literária.
Liu Jiakun participou em exposições internacionais, nomeadamente a de Arquitetura Experimental de Jovens Arquitetos Chineses, no 20.º Congresso Mundial de Arquitetos, em 1999, em Pequim, na TU MU Arquitetura Jovem da China (2001), em Berlim, na de Criação Urbana,apresentada na Bienal de Xangai, em 2002, nas 1.ª, 3.ª e 7.ª Bienais Bi-City de Urbanismo/Arquitetura, em Shenzhen, na China, respetivamente em 2005, 2009 e 2017, nas 11.ª e 15.ª Exposições Internacionais de Arquitetura, da Bienal de Veneza, em 2008 e 2016, na 56.ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza (2015), na exposição “Agora e Aqui – Chengdu – Liu Jiakun”, com uma seleção de trabalhos seus, realizada em Berlim, em 2017, e refira-se ainda a “Super Fusion”, na Bienal de Chengdu, na China, em 2021.
Atualmente, é professor convidado na Escola de Arquitetura da Academia Central de Belas Artes, em Pequim, tendo já lecionado na Cité de l’Architecture et du Patrimoine, em Paris, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Cambridge, nos Estados Unidos, na Royal Academy of Arts, em Londres, entre outras instituições na China.
O seu palmarés inclui o Far Eastern Architectural Design, Outstanding Award (2007 e 2017), o Prémio ASC Grand Architectural Creation (2009), o Architectural Record China Award (2010), Prémio WA para Arquitetura Chinesa (2016), Construir com a Natureza, Prémio Arquitetura China (2020), Prémio Sanlian Lifeweek City for Humanity de Contribuição Pública (2020) e Prémio UNESCO Ásia-Pacífico para a Conservação do Património Cultural, Novo Design em Contextos Património (2021).
Liu continua a exercer a profissão e a residir em Chengdu, na China, dando prioridade à vida quotidiana dos cidadãos através das suas obras, afirma a organização do Prémio Pritzker.
Liu Jiakun esteve quase a abandonar a arquitetura até que se apresentou uma exposição individual de arquitetura de Tang Hua, um antigo colega de universidade, em 1993, no Museu de Arte de Xangai, “reacendendo a sua paixão pela profissão e alimentando uma nova mentalidade de que também ele poderia desviar-se da estética social prescrita”. O galardoado considera “esta perceção transformadora — de que o ambiente construído pode servir como meio de expressão pessoal — como o momento em que a sua carreira arquitetónica começou verdadeiramente”.
O ano passado o vencedor foi o japonês Riken Yamamoto, nascido em 1945, e a lista de galardoados inclui os portugueses Álvaro Siza Vieira (1992) e Eduardo de Souto Moura (2011), o brasileiro Paulo Mendes da Rocha (2006), o chileno Alejandro Aravena (2016), as irlandesas Yvonne Farrell e Shelley McNamara (2020), o inglês David Alan Chipperfield (2023), e Francis Kéré, do Burkina Faso, em 2022, entre outros.