Depois de Davos onde os líderes mundiais se reuniram nos passados dias 20 a 24 de janeiro, sob o lema: “Colaboração para a Era Inteligente”, realizou-se a cimeira de Paris na segunda semana de fevereiro. Também aqui, líderes mundiais, executivos da indústria tecnológica e cientistas reuniram-se para debater o impacto da Inteligência Artificial (IA) na segurança, economia e governação mundiais. Este evento contou, ainda, com a participação de empresas como a Google, a Microsoft e a OpenAI.
Se excetuarmos a visão da China, que se associou e subscreveu, o que revela, uma vez mais, o espírito oriental milenar da perseverança e sapiência, e da India (desde primeira hora mentora deste evento, numa parceria do primeiro-ministro Narendra Modi com Emmanuel Macron), a cimeira acaba ficando limitada, ainda que mereça o benefício da antecipação e previsão, pelo facto dos EUA e Reino Unido não terem assinado a declaração final. O Governo de Londres diz que quer proteger os interesses dos britânicos. Já o vice-presidente norte-americano limitou-se a criticar a postura da UE, que pretende liderar esta realidade emergente investindo mais 50 MM€, dos 200 MM€ esperados, visando uma IA aberta, inclusiva, ética e não concentrada, conforme a declaração final
Definitivamente, o tema da IA está na ordem do dia e é visto como uma realidade, que veio para impactar o presente e o futuro. A recente cimeira vem acelerar esta visão apontado para a necessidade de a IA deixar de ser encarada como restrita e colocá-la, de vez, no centro de todas as atenções. Tendo-se presente que a mesma vai estar inexoravelmente conectada em todas as áreas. Aprofundando-se na Cultura, na Saúde (diagnóstico, assistência personalizada, tratamentos e novos fármacos) e no Ambiente (sensores e algoritmos monitorizam e antecipam falhas e otimizam recursos ); mas também no Direito (análise de enunciados contratuais, redação de peças processuais e, nalguns casos, atos judicativos e legislativos) e no Ensino, como um recurso inesgotável, permitindo experiências imersivas e interativas com os alunos a poderem estar “em todo o lado” na sala de aula (cada vez mais espaços híbridos, flexíveis e modulares), visualizando ainda conceitos abstratos de forma concreta. Ensino, que conduzirá inapelavelmente, a uma aprendizagem mais prática, ativa, dinâmica e até divertida (com o gamming a assumir papel disruptivo e motivacional para a própria aprendizagem).
Nas empresas a IA já inaugurou novos paradigmas. A automação, já presente desde há muito, tem permitido um aumento de produtividade e da segurança. Contudo, agora, sinais de inovação, competitividade, rapidez, flexibilidade e eficiência -até com menores custos, começam a ser alcançados. A análise de grandes quantidades de dados e do recurso a novas plataformas digitais vem permitir também novas oportunidades de negócio, novos produtos e serviços, melhorando consequentemente a performance empresarial.
Esta realidade impõe-se e não vale a pena contestar. Mas, é preciso de forma pragmática encarar o facto de que muitos empregos com elevados níveis de tarefas repetitivas virem a ser automatizados e, consequentemente, levar ao desemprego. Os riscos de acentuar desigualdades sociais e económicas é, pois, grande.
Novos desafios à governação e à definição de políticas publicas, que esbatam esta mudança de paradigma laboral mediante a capacitação, a informação e a transparência do Trabalho é necessário.
Se os trabalhadores devem, mais que nunca, manter-se atualizados e acompanhar as evoluções e mudanças que a IA traz, aos governantes impõe-se investir na educação, desencadear experiências, manter atualizados os avanços tecnológicos e os impactos que estes permanentemente implicam. Realizar estágios, encontrar oportunidades de desenvolvimento profissional, alocação de carreiras e sua valorização aos trabalhadores. Finalmente, ou inicialmente -consoante a perspetiva-, apostar na componente networking entre profissionais, dinamizando oportunidades e valorização nas várias áreas e setores revela-se crucial.