Faleceu Juliana Isabel D’Oliveira. Dito assim, o nome não é facilmente reconhecível, mas basta dizer que era a dona do Bibi da Isabelinha e certamente muitos se lembrarão do restaurante Estrela do Norte, localizado na Camacha e onde se comia o melhor frango do Porto Santo. Outros recordarão os reparos de Isabelinha, que não se coibia de refrear o apetite dos seus clientes, sempre que pediam mais frango ou mais batata frita. Haverá alguns que até foram ameaçados por consumirem álcool a mais, já que a dita senhora, pegando no telefone dizia: queres que ligue ao teu pai? No meu caso, recordo-a de bata vestida, na pequena cozinha de fora, vigiando as duas bocas do fogão, cada qual com a fritadeira e o óleo a ferver. Ouvi o meu pai, uma e outra vez, sugerir a aquisição de fritadeiras elétricas. Nunca as comprou. Quem quisesse mais batata frita, tinha de saber esperar. Resistiu tal como relutou à modernização da sua cozinha. Estoicamente.
Por falar em resistência, na minha rua já quase só moram séniores. Algumas casas até estão fechadas porque só habitadas no pico do Verão. Sei que é assim em todos os lados, mas, por vezes e quando a noite despe o dia e sob um céu estrelado, sento-me no quintal e ouvindo as rãs a cachoar na represa, lembro-me dos tempos em que o Dragoal transbordava de vida pois não só eramos muitos como fazíamos da rua o palco das brincadeiras e até os adultos confraternizavam como se o sitio fosse uma gigante sala de estar. Eu, morando na esquina, “controlava” o movimento ao centro, direita e esquerda e a bem dizer até a pista do aeroporto. Bem pertinho, a venda do Sr. Silvestre era o centro nevrálgico das mais variadas operações estratégicas. Sim, a ideia era abastecer os moradores, numa altura em que não havia supermercados, mas, na realidade, era também o local onde se faziam pequenos negócios, se sabia das novidades e das bilhardices, se trocavam palavras mais acesas e discutia politiquices, mas também onde se trocavam olhares e se davam os primeiros beijos. Sosseguem, não vou revelar mais nada!
Atrás, uma pequena divisória bafienta, erguia-se um pequeno balcão sob um chão de cimento vermelho. Dali para dentro, só homens. Dali para fora, nós. Olhando de quando em vez, vendo-os de copo numa não e cigarro na outra, vencidos pelo dia de trabalho e pelas agruras da vida. Encostadas ao muro, algumas motas, cobiçadas pelos mais aventureiros. Bastava uma distração para as surripiar só para dar uma “voltinha”. Continuarei com o meu voto de silêncio, podem ficar descansados.
Agora que já passou a movimentação do Natal, é tempo de calma e tranquilidade. Como ainda acontece em algumas zonas, inclusive em Gibraltar, descobri numa troca de SMS com o meu amigo John Piris, mantem-se a tradição de levar a imagem de Nossa Senhora de casa em casa. É a Nossa Senhora da Caixa a quem outrora se rezava o terço. Aqui, no Dragoal, ela ainda nos visita e, este ano tive a honra de a receber. Que venham as bênçãos e já agora, tudo a que tenho direito.