Agressor de Salman Rushdie considerado culpado de tentativa de homicídio

Hadi Matar, que atacou o escritor Salman Rushdie com uma faca durante uma conferência literária no norte do estado de Nova York, em agosto de 2022, foi hoje considerado culpado de tentativa de homicídio em segundo grau e agressão.

O júri emitiu o veredicto depois de menos de duas horas de deliberações sobre um caso em que o autor de “Os Versos Satânicos” sofreu doze facadas em 27 segundos e sobreviveu “milagrosamente”, segundo os médicos que o trataram.

Matar, um libanês-americano de 27 anos que utilizou o direito de não testemunhar durante este julgamento que durou apenas sete sessões, enfrenta uma pena de até 25 anos de prisão.

Além disso, o jovem tem outro caso federal aberto no qual é acusado de crimes de terrorismo por supostamente ter fornecido ajuda material à milícia xiita libanesa Hezbollah.

A sentença contra Matar, com dupla nacionalidade americana e libanesa, será anunciada no dia 23 de abril.

Durante a última sessão deste julgamento realizada num tribunal do condado de Chautauqua, os advogados de Matar apresentaram os seus argumentos finais nos quais, segundo eles, o jovem criado no estado de Nova Jersey não procurou matar Rushdie com o ataque, o que teria implicado uma pena menor para o jovem.

O julgamento contou com o depoimento do escritor, que narrou detalhes daqueles trágicos 27 segundos em que “sentiu que estava a morrer”, além de diversas testemunhas, polícias e médicos legistas.

O escritor anglo-americano de 77 anos foi uma testemunha chave na semana passada, quando partilhou com o júri como viveu um ataque – no qual foi esfaqueado no rosto, pescoço, peito e tronco – e os 17 dias que se seguiram num hospital da Pensilvânia, mais três semanas num centro de reabilitação de Nova Iorque.

Salman Rushdie perdeu o olho direito e sofreu danos permanentes nos nervos da mão, decorrentes deste esfaqueamento.

Nascido em Bombaim, em 1947, Salman Rushdie é autor de romances, contos para a juventude e ensaios, e recebeu em 1981 o Prémio Booker pelo livro “Os filhos da Meia-Noite”.

O escritor incendiou parte do mundo muçulmano com a publicação da obra “Versículos Satânicos”, em 1988, que levou o fundador da República Islâmica, o aiatola Ruhollah Khomeini, a emitir uma ‘fatwa’ a ordenar a sua morte.

Depois disso, passou anos escondido e com proteção policial, mas regressou gradualmente à vida pública depois de, em 1998, o governo iraniano se ter distanciado da ordem, afirmando que não apoiaria alguma tentativa de o matar, embora a ‘fatwa’ nunca tenha sido oficialmente revogada.

O seu romance mais recente, “Cidade da Vitória”, concluído um mês antes do atentado, foi lançado em 2023 e também está publicado em Portugal.

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